Presidente declarou na terça (1º) que vai remover os cálculos, que tem há cinco anos. Especialistas ouvidos pelo G1 afirmam que a condição não costuma ser grave, mas precisa ter a origem investigada. Bolsonaro vai passar por cirurgia para retirar um cálculo da bexiga
Na terça-feira (1º), o presidente Jair Bolsonaro disse a apoiadores que retiraria um cálculo “maior que um grão de feijão” alojado há cinco anos na bexiga. Ele não informou nem quando nem por qual método vai remover o cálculo.
O G1 ouviu especialistas para entender:
O que são esses cálculos e como eles surgem;
Quais são os sintomas;
Quais são os métodos usados para retirá-los;
Qual o tempo de recuperação depois da retirada.
Veja abaixo as respostas.
1) O que são cálculos? Como eles surgem?
Os cálculos são pequenos acúmulos de minerais que se unem e vão aumentando de tamanho. Na bexiga, isso normalmente é causado por urina parada que se acumula sem conseguir sair. Isso pode ocorrer por alguns motivos; nas mulheres, é raro, porque a anatomia do corpo facilita que a bexiga seja esvaziada, afirmam os especialistas ouvidos pelo G1.
Nos homens, na maioria dos casos, é por causa de um aumento no tamanho da próstata, que é um órgão que envolve a uretra, por onde passa a urina (veja infográfico).
Quem tem histórico de problemas de próstata ou mais de 45 anos corre mais risco de desenvolver o problema, afirma o médico Fabio Vicentini, chefe do Centro de Cálculo Renal do Hospital 9 de Julho, em São Paulo.
“A próstata é uma glândula do tamanho de um limão, e a uretra passa dentro dela. Se a próstata começa a aumentar, começa a fechar a uretra, então a pessoa começa a urinar com dificuldade. A bexiga tem que fazer força para mandar a urina para fora”, explica Vicentini.
“Nessa situação, você começa a ter um resíduo urinário: tem lá 300 ml de urina, mas você urina e começam a sobrar 100 ml. Está esvaziando mal. Esse urinar mal, esse resíduo, é que provoca o líquido parado, e isso pode favorecer a formação de pedras na bexiga”, completa o médico.
Existe, também, a possibilidade de que os cálculos surjam nos rins e desçam até a bexiga, mas esses costumam ser menores, com até 5 mm.
“Da bexiga para a frente, o canal [uretra] tem de 9 a 10 milímetros”, explica o médico Carlo Passerotti, coordenador do Centro de Cirurgia Robótica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, também em São Paulo.
“Se a próstata estiver grande, esse cálculo pode não sair, mesmo com 5 mm”, diz Passerotti. “Ele vai então crescer. Normalmente é o paciente que já tem histórico de cálculo de rim, já teve dor”, explica.
2) Quais são os sintomas?
Quando um paciente tem um cálculo na bexiga, ele pode ter dor ao urinar, sangue na urina, infecções e, além disso, o cálculo pode entupir a uretra e impedir completamente a passagem da urina, explica Carlo Passerotti.
Os especialistas dizem que o problema não costuma ser grave – mas precisa ter a origem investigada, para que não volte a acontecer.
“Se o paciente encontra um cálculo, tanto faz se de bexiga ou de rim, tem que procurar um médico. Se tiver dor, febre. Cálculos de rim com febre podem ser perigosos, porque pode dar sepse urinária e pode matar. Ter que ir no banheiro o tempo todo é um sinal de alerta”, acrescenta.
“O cálculo urinário tem alta chance de se formar de novo se não tratar a causa – tanto do rim quanto da bexiga”, afirma Fabio Vicentini.
4) Como é o procedimento para retirar os cálculos?
Há várias técnicas para resolver o problema, afirmam os especialistas ouvidos pelo G1. A mais comum delas é que a cirurgia retire o cálculo – e, se for o caso, parte da próstata – pela uretra, usando um laser.
“Você entra com o laser pelo canal [da uretra] e vai cavando por dentro, e tira só a parte [da próstata] que está obstruindo, que aumentou para dentro do canal”, explica Fabio Vicentini.
A escolha por uma das técnicas depende de vários fatores, como o tamanho da próstata e do cálculo do paciente.
“Até 9, 10 mm, a depender do formato do cálculo, você consegue puxar pelo canal. Se o cálculo tem 1, 1,5cm, vai com uma pinça, quebra, e tira. Acima disso, normalmente tem que entrar com laser”, detalha Passerotti.
“Pelo canal [da uretra], eu tenho um espaço limitado, então consigo retirar uma quantidade limitada de próstata. Se tem até 80g, eu consigo retirar pelo canal. Se tiver mais, faz por outra técnica – com laser, aberta ou robótica. Acima de 100g, a gente sempre faz aberta ou robótica”, diz.
“Quando é cálculo grande, acima de 3 ou 4 cm, o melhor jeito é tirar pelo abdômen. Nesse caso, a cirurgia pode ser aberta ou por robô. No robô, você faz 5 a 6 furos na barriga, abre a bexiga, tira o miolo da próstata e tira o cálculo por cima”, completa Passerotti.
Existe, ainda, um método chamado de litotripsia extracórporea, que funciona bem para cálculos pequenos. Nesses casos, explica Fabio Vicentini, uma máquina usa ondas de choques para quebrar as pedrinhas, e, depois, o paciente elimina os cálculos pela urina. Mas isso pode não funcionar, e o cálculo pode ficar preso no canal.
A duração da cirurgia também vai depender da técnica usada: pode ir de 30 minutos a duas horas.
Ambos os médicos frisam que a cirurgia de retirada dos cálculos não tem nada a ver com a cirurgia para remover câncer de próstata. Por isso, não tem os efeitos da de câncer, como incontinência ou impotência.
“Na de câncer, você tira a próstata inteira, a casca da próstata. Nessa, é como se tirasse só o miolo, como o miolo de uma mexerica”, diz Passerotti. “Você não mexe nos nervos da ereção, no músculo da continência. O risco de incontinência e impotência é absurdamente baixo”, explica.
“A chance de incontinência e impotência em todas as técnicas é muito pequena – menos que 1% para incontinência e impotência, menos que 5%. Em uma cirurgia de câncer, a chance de incontinência é de 3%, 4% pelo menos”, explica.
Já a impotência, em casos de câncer, depende da idade: quanto maior a idade, maior o risco. Uma pessoa de 40 anos tem 5%; já uma de 70 tem até 50%.
5) Qual o prazo de recuperação?
Depende da técnica usada na cirurgia. Em geral, o paciente fica entre 1 e 2 dias no hospital, podendo chegar a 4 se a técnica usada for a aberta. Se houver procedimento na próstata, é necessário que ele fique 15 dias sem fazer esforço, diz Fabio Vicentini.
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