Deltan Dallagnol sobre saída da Lava Jato: ‘Se eu fosse sair sob pressão, teria saído antes’

O procurador da República Deltan Dallagnol reforçou, em entrevista ao Jornal da Manhã nesta quinta-feira (3), que não saiu da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba por pressões externas. “Se eu fosse sair sob pressão, teria saído antes”, disse. Ele deixou o cargo de coordenador da força-tarefa para se dedicar à filha de 1 ano, que apresentou sinais de regressão de desenvolvimento, mas vai continuar trabalhando como procurador da República em outros casos. Dallagnol também garantiu que o trabalho do grupo de procuradores vai continuar mesmo sem ele ali. “A operação segue firme, existe muito trabalho para fazer. Existe um time motivado, resiliente, corajoso e experiente que vai seguir fazendo seu trabalho”, afirmou.

Deltan, no entanto, chamou a atenção para o fato de que a Lava Jato pode ser esvaziada por decisões externas, que não competem à força-tarefa. “O trabalho vai seguir em frente, mas o que nos preocupa não é esse time, é o que acontece fora. A capacidade desse time alcançar trabalhos depende muito das decisões que acontecem em Brasília”, explicou. Um dos fatores primordiais para a sequência do trabalho é a decisão do procurador-geral da República, Augusto Aras, de continuar com a força-tarefa. Ele tem até o dia 9 de setembro para tomar a decisão. “Essa decisão depende dele, esperamos que ele possa reavaliar e conhecer melhor os trabalhos e apoiar esse relevante trabalho.”

Dallagnol também comentou os recentes ataques que a Lava Jato vem sofrendo por parte da própria PGR e se disse surpreso. “Sempre tivemos acostumados a sofrer ataques externos, a Lava Jato sempre foi acossada por ter atingido interesses poderosos e a gente sofreu resistência no Congresso Nacional e outros lugares. Mas, pela primeira vez, sofremos críticas de dentro da instituição, nossa última capa de proteção”, lamentou. “a Lava Jato sempre esteve sob pressão e sob ataque. Já tivemos N oportunidades de demonstrar nossa coragem e resiliência”, continuou.

Lava Jato em São Paulo

O ex-coordenador da Lava Jato em Curitiba ainda falou sobre a demissão coletiva de procuradores da força-tarefa de São Paulo. Ele apontou que o que aconteceu na capital paulista foi algo particular. “Foi uma incompatibilidade de visão de trabalho entre o grupo e o procurador que assumiu o cargo, legalmente responsável pelo caso”, explicou. Segundo ofício, os procuradores fizeram a solicitação devido a “incompatibilidades insolúveis com a atuação da procuradora natural dos feitos da referida força-tarefa, Dra. Viviane de Oliveira Martinez”.

Deltan afirmou que o que ocorreu em São Paulo não compromete a continuidade da Lava Jato no país. “O trabalho em Curitiba e no Rio de Janeiro seguem firmes, foi algo muito peculiar de São Paulo”, continuou, afirmando novamente que a incompatibilidade de estilos de trabalho entre o grupo e a procuradora Martinez foi o principal motivo para a debandada. “O grupo e a promotora natural tinham visões diferentes e o castelo ruiu, mas é totalmente diferente do que acontece em Curitiba”, garantiu o procurador.

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