Fique em casa. Essa foi uma das principais recomendações das autoridades durante a pandemia do coronavírus. Mas e quem não tem casa? E as famílias que perderam a moradia? Se a demanda por habitação já existia antes da pandemia, agora ela deve ser um desafio ainda maior. O professor Marcos Castro, da Universidade Federal do Amazonas, explica que esse é um problema estrutural e que nunca aparece sozinho. “Isso acaba sendo reflexo da sociedade que nós temos, da má distribuição de renda, da precária inserção no mercado de trabalho, precária escolaridade. Isso vai repercutir na questão da moradia e habitação”, explica.
Quem circula pelas grandes cidades do Brasil já deve ter notado um aumento da população de rua desde março. Em São Paulo, que é a cidade mais populosa e rica do país, essa alta foi de 53%, segundo um levantamento da própria prefeitura. O urbanista Nabil Bonduki diz que as pessoas mais afetadas foram aquelas que já tinham dificuldade para pagar por uma moradia. “A população de baixa renda que mora de aluguel, principalmente em cortiços e habitações precárias, elas perderam renda e muita gente não conseguiu pagar o aluguel. A renda emergencial apenas dá conta da alimentação, não dá conta de pagar aluguel. Então esse pessoal ficou despejado”, disse.
Este é o caso da Aparecida de Jesus, que tem cinco filhos. O aluguel do lugar onde ela morava ia aumentar em R$ 200 durante a pandemia. Por isso, eles vieram para a comunidade do Rio Abaixo, em Suzano, na região metropolitana de São Paulo. “Pagava aluguel, tinha as coisas para comprar, um remédio do neném para comprar, as fraudas do neném também. Tem muita coisa, então não dá”, afirma a moradora. O professor Marcos Castro, da Universidade Federal do Amazonas, critica a falta de continuidade das políticas públicas voltadas para a habitação. “Chega um prefeito, ele desconstrói tudo que foi feito pelo seu anterior, ainda mais se for um adversário político, ou reinventa nome de projetos para começar tudo de novo. Então o sucateamento de boas políticas e o recomeço de políticas do zero é um dano para as políticas públicas urbanas”, disse. Enquanto isso, a Aparecida de Jesus só deseja construir uma casa adequada, onde os cinco filhos possam crescer.
*Com informações da repórter Nicole Fusco
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