Alain Cocq está paralisado por dores incessantes há 34 anos. Presidente francês disse que não poderia pedir que um médico ignorasse o atual quadro jurídico da França. Foto de 12 de agosto de 2020 mostra Alain Cocq, que sofre de doença incurável, em sua cama hospitalar em seu apartamento em Dijon, no nordeste da França
Philippe Desmazes / AFP
Um francês de 57 anos, que sofre de uma doença incurável, decidiu que irá parar de se alimentar e abandonar seus tratamentos a partir desta sexta-feira (4). Alain Cocq tomou a decisão após o presidente Emmanuel Macron lhe negar ajuda para morrer.
Ele disse que vai parar de se alimentar, de se hidratar e de se tratar – exceto para aliviar a dor – “a partir da hora de dormir”. O francês ainda irá transmitir sua agonia pela internet.
Cocq queria uma sedação, mas, como não está em estado terminal, a lei francesa não autoriza.
Paralisado há 34 anos
Alain Cocq sofre de uma doença extremamente rara e sem nome, que faz as paredes de suas artérias se colarem, causando “isquemia”, ou seja, uma parada, ou insuficiência da circulação sanguínea, em um tecido, ou órgão.
Ele está paralisado por dores incessantes há 34 anos, condenado a permanecer na cama. Cocq passou por nove operações em quatro anos e é vítima de descargas elétricas constantes.
“A cada três ou quatro segundos, recebo um choque elétrico que começa na cabeça e desce até as pontas dos dedos das mãos e dos pés”, descreveu.
“Meus intestinos esvaziam em uma bolsa. Minha bexiga esvazia em uma bolsa. Não posso me alimentar, então eles me alimentam como um ganso, com um tubo no meu estômago. Não tenho mais uma vida decente. Decidi dizer chega”, explicou recentemente à agência AFP.
Cocq gostaria de receber uma sedação profunda, algo que a lei francesa não permite, exceto quando se está a poucas horas da morte certa.
Foto de 12 de agosto de 2020 mostra Alain Cocq, que sofre de doença incurável, em seu apartamento em Dijon, no nordeste da França
Philippe Desmazes / AFP
Apelo em vão a Macron
Alain Cocq tomou sua decisão depois de receber uma negativa de Macron. Ele havia escrito ao presidente francês com um pedido para que ele autorizasse um médico a prescrever um remédio que lhe permitisse “partir em paz”.
“Como não estou acima da lei, não posso concordar com sua exigência. Não posso pedir a alguém que ignore o atual quadro jurídico”, disse Macron em uma carta enviada a Cocq.
“Com emoção, respeito sua iniciativa”, disse ainda o chefe de estado em sua carta, à qual a AFP teve acesso, que inclui uma frase manuscrita: “Com todo meu apoio pessoal e meu profundo respeito”.
‘Minha luta se prolongará no tempo’
Ele estima que sua agonia irá durar de “quatro a cinco dias” a partir do sábado (5). No entanto, apesar de ter uma carta recusando qualquer tipo de ajuda, seus cuidadores deverão ligar para o serviço de urgência para não serem acusados de cometer um crime.
De acordo com a AFP, Cocq afirmou que irá transmitir “ao vivo” o fim da sua vida a partir de sábado, quando acordar, para “mostrar aos franceses qual é a agonia imposta pela lei”.
Já à rádio France Inter ele afirmou que um vídeo sem som será transmitido depois que ele tiver morrido. “Por mim está fora de questão de mostrar imagens chocantes”.
Cocq espera que sua luta sobreviva e que, no futuro, seja adotada uma legislação que permita os cuidados no fim da vida para evitar “sofrimento desumanos”. “Minha luta se prolongará no tempo”, afirmou.
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