O antibiótico azitromicina, recomendado pelo governo federal como tratamento para o novo coronavírus, não tem eficácia contra a doença, segundo pesquisa feita pela Coalizão Covid-19, grupo formado por hospitais brasileiros. Segundo o pesquisador do HCor e integrante do grupo, Alexandre Biasi, um estudo concluiu que não foi comprovado benefício para pacientes com quadro grave da infecção. “Para a Covid-19, esse antibiótico tem sido amplamente utilizado porque havia a expectativa, principalmente no início da pandemia, que poderia ter ação contra o vírus. Além disso, há de modo geral o risco de alguns pacientes de desenvolver pneumonia, então frequentemente a azitromicina era utilizada”, explicou Biasi.
Segundo o pesquisador, porém, a medicação não apresentou efeitos adversos nos grupos em que foi administrada — apesar de não ter sido constatada eficácia do medicamento. Para ele, o uso da azitromicina, bem como a recomendação de qualquer remédio sem comprovação científica, “precisa ser revista”. “A introdução de medicamentos no tratamento das doenças se faz após a avaliação apropriada e sistemática das medicações. Tem fases de pesquisa até demonstrarmos que aquele medicamento é útil no tratamento de uma doença”, afirmou Biasi. A Coalização Covid-19 publicou recentemente um estudo em que atestava que a cloroquina — também recomendada pelo governo Bolsonaro — não é eficaz no tratamento do coronavírus.
“No caso da pandemia, pela gravidade e extensão que teve, acabou fazendo com que as pessoas busquem respostas e atalhos, mas isso dificilmente vai ser a solução. Acabamos errando mais do que acertando. Há outras medicações depois da hidroxicloroquina que as pessoas insistem que podem ter benefício, e até podem ter, mas para usar na prática clínica precisam ser testadas”, ressaltou o pesquisador do HCor. De acordo com ele, há uma série de tratamentos em evolução com avaliações muito boas em pesquisas, como os corticoides, que têm um impacto na redução da mortalidade em pacientes graves da Covid-19.
No entanto, o pesquisador aponta que “as principais lições tem muito mais a ver com a prevenção do que com o tratamento”. “Hábitos de distanciamento social, usar a máscara, evitar colocar a mão no rosto… Esse conjunto de medidas que a gente passa a fazer de forma bem mais consistente, eu acho que isso é o principal mediador para essas reduções que observamos na maioria dos estados“, disse. Ele lembrou, ainda, da importância da Coalizão Covid-19, bem como de outros grupos de pesquisas sobre o novo coronavírus. “Eu penso que aqui no Brasil tivemos a felicidade de ter entendido que é importante juntar as forças e organizar-se em instituições, não somente para cuidar dos pacientes, mas também para gerar conhecimento. Você não consegue fazer pesquisa sozinho e isolado, e vários países não conseguiram fazer o que temos feito”, finalizou.
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