Ao iniciar a guerra comercial, aplicando sobre tarifas xt aos produtos da China, os Estados Unidos esperavam sair como os grandes vencedores. O primeiro acordo entre os dois países, que devia aumentar as trocas comerciais, veio no início do ano, mas quem desponta como o grande vencedor é o Brasil. As exportações de carne bovina para os Estados Unidos aumentaram 141% em julho, segundo o Daily Livestock Report, boletim de preços e de indicadores. Os exportadores brasileiros também venderam 128% mais carne suína para os chineses no mesmo período do que em 2019, informa a mesma publicação. O Brasil exporta para os dois lados com a mesma desenvoltura. Mas os maiores negócios são mesmo com a China. O gigante asiático e Hong Kong ficam hoje com dois terços da carne brasileira que deixa o país. As exportações aumentaram na mesma proporção, 65,8%, de acordo com a Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos. E não se trata apenas da carne).
O mesmo ocorre em setores como celulose, petróleo e mineração. Os chineses aproveitam, por exemplo, a baixa no preço do petróleo para reforçar estoques. Mais vendas para a Petrobras. Nos produtos agrícolas, se vê a consequência negativa nessa alta de preços do arroz e feijão nos supermercados. Mas para os produtores e a economia do país é um grande negócio. Já se especula que as compras chinesas do Brasil vão ser recorde este ano, superando os US$ 115 bilhões de 2019. Entre janeiro e agosto, já foram praticamente US$ 55 bilhões. E com o crescimento, Brasil alcançou uma posição rara: é um dos poucos países com superávit comercial com a China. Foram US$ 34,6 bilhões. Fica atrás da Austrália, que tem de US$ 43 bilhões.
Mas o Brasil tem uma vantagem: não é alvo de retaliações comerciais, como a China tem aplicado à carne e aos produtos agrícolas australianos.É uma forma não muito ética de fazer política comercial. A Austrália pediu uma investigação sobre como a China geriu inicialmente a crise da covid-19. E a China pune a Austrália reduzindo as exportações. Mas que não afeta as exportações brasileiras. No fim, é irônico, pois, na disputa entre os dois países, o Brasil tem se colocado ideologicamente e estrategicamente ao lado dos Estados Unidos e no lado oposto ao da China. Mas na vida real é com a economia chinesa que a brasileira está cada vez mais entrelaçada.
*Samy Dana é economista e comentarista da Jovem Pan.
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