Fosfina é produzida na atmosfera terrestre por micróbios anaeróbicos (que não precisam de oxigênio) ou pela atividade industrial. Origem em Vênus é desconhecida, dizem pesquisadores. A pesquisadora portuguesa Clara Sousa Silva é uma das responsáveis pela descoberta de fosfito na atmosfera de Vênus
Reprodução/TV Globo
A astrofísica molecular Clara Sousa Silva buscava em todo o universo a presença de uma substância bastante peculiar, a fosfina, que pode indicar a presença de vida na atmosfera de planetas. Ela foi surpreendida há pouco mais de um ano ao descobrir que esse gás estava mais perto do que pensava.
A pesquisadora portuguesa participa do grupo de cientistas internacionais que, nesta segunda-feira (14), publicou a descoberta do gás fosfina na atmosfera de Vênus. A presença dessa substância pode ser um indício da presença de vida microscópica no planeta vizinho.
“Se realmente tivermos achado vida em Vênus, isso seria fantástico”, disse Silva em entrevista à TV Globo. “Se isso realmente acontecer, a vida seria muito mais comum que pensávamos, nossa ‘vizinhança galática’ pode estar cheia de vida, só falta que a gente a encontre.”
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NASA / JPL-Caltech
Ela explicou que a molécula da fosfina é muito difícil de ser feita e está bastante vinculada à presença de vida. Segundo ela, dificilmente esta substância é produzida espontaneamente. Ela não descarta, no entanto, que alguma reação ainda desconhecida pela ciência possa ser responsável pela presença da molécula em Vênus
“O que sabemos é que a superfície de Vênus não é habitável”, disse a cientista. “É muito quente, com muita pressão, e nada complexo consegue sobreviver. Mas nas nuvens de Vênus, que é onde nós achamos fosfina, as temperaturas são boas e a pressão atmosférica é razoável.”
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As temperaturas na superfície de Vênus podem ultrapassar facilmente os 800 ºC, enquanto que as nuvens se mantêm com temperaturas entre 30ºC e 50ºC. Silva explicou que as nuvens daquele planeta são mais secas que as zonas mais secas da Terra e que se existir, a vida em Vênus teria que se adaptar a falta de água e a alta concentração de ácido sulfúrico.
“[A possível vida em Vênus] tem que ser anaeróbica [que não consome oxigênio] e teriam que ser muito simples, mas é claro que isso não sabemos”, disse a cientista.
A descoberta
A pesquisa que encontrou o fosfito na atmosfera de Vênus foi liderada por outra cientista, a pesquisadora da Universidade de Cardiff, Jane Greaves. Ela procurava por esta substância desde 2016 com a ajuda de dois telescópios, um no Havaí (EUA) e outro no Chile.
Segundo o artigo, apesar das suspeitas da professora Greaves, a descoberta do gás na atmosfera de Vênus é surpreendente porque as condições na superfície do planeta são hostis à vida e a composição das suas nuvens, local onde foi identificada a fosfina, é altamente ácida.
“Em tais condições, a fosfina seria destruída muito rapidamente”, diz o texto publicado pelo grupo na “Nature Astronomy”.
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A fosfina existente na atmosfera terrestre é produzida por micróbios anaeróbicos (que não precisam de oxigênio) ou pela atividade industrial.
Em Vênus, os cientistas acreditam que a fosfina pode ter origem em processos fotoquímicos ou geoquímicos desconhecidos. Os cientistas não conseguiram identificar a fonte.
“Há duas possibilidades: pode haver alguma reação completamente desconhecida que está criando fosfina em Vênus, ou, a mais excitante, pode ser vida”, explicou William Bains, pesquisador do Instituto de tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, que também assina o artigo.
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Reprodução
Animados, mas nem tanto
Os cientistas afirmam que outras observações de Vênus e demais estudos são necessários para explorar a origem da fosfina na atmosfera do planeta.
“Estamos animados com a descoberta”, afirmou outra autora, Sara Seager, professora do MIT. “Mas não estamos afirmando que encontramos vida em Vênus”, ponderou.
“Estamos procurando por sinais de vida em exoplanetas, procurando por gases que não esperamos que estejam lá e há muitas missões em busca de potenciais sinais de vida em nosso Sistema Solar”, informou Seager.
“Esperamos que nossa descoberta motive futuras missões focadas em Vênus”, pediu a astrônoma, lembrando que o planeta estava praticamente esquecido pela comunidade científica.
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