Ninguém esperava que o Brexit fosse um processo tranquilo — mas as reviravoltas de folhetim que a história toda tomou são surpreendentes. A Câmara dos Comuns em Londres aprovou na segunda-feira (14) em primeira etapa uma controversa legislação proposta pelo primeiro-ministro Boris Johnson. O projeto unifica as leis de comércio internas do Reino Unido nas relações entre Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. O procedimento é necessário porque atualmente essa uniformidade comercial é regida pelas regras da União Europeia. O problema é que Johnson colocou no bojo dispositivos sobre a fronteira das Irlandas que rompem o acordo firmado com Bruxelas no início do ano.
Na prática, o conservador está descumprindo a palavra formalizada com os europeus — o que criou um grande desconforto no continente. Cinco ex-primeiro-ministros britânicos já se manifestaram contra a decisão de Johnson, incluindo os conservadores David Cameron, Theresa May e John Major. Isso é extremamente incomum, já que primeiro-ministros acabam adotando uma vida discreta quando deixam o cargo e não comentam decisões do dia a dia tomadas pelo governo. Mas Boris Johnson parece estar colocando em risco a reputação do país — a União Europeia promete, inclusive, tomar medidas legais para reagir.
A proposta foi aprovada em primeira votação com tranquilidade porque os conservadores têm maioria absoluta na casa, com 80 cadeiras de sobra. Mas até mesmo a pressão interna do partido parece pronta para criar problemas para o primeiro-ministro nos debates adiante. Vale lembrar que o Reino Unido está no período de transição do Brexit, que será finalizado em 31 de dezembro. O país negocia um acordo de livre comércio com a Europa — que ainda parece distante de ser alcançado. As negociações com os Estados Unidos também se arrastam e uma eventual derrota de Donald Trump será ainda mais delicada para Boris Johnson. Até agora o país só conseguiu firmar acordo com o Japão — num entendimento importante, mas que é apenas uma pequena fração do que os britânicos tinham acesso como integrantes da União Europeia.
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