Especial: A luta contra o racismo no mercado de trabalho e nas questões de gênero

Chegar ao cargo de repórter sempre foi o sonho de Ana Carolina Alves, de 24 anos. Mas ela sempre soube que não seria um caminho fácil, mesmo com a bagagem de um currículo impecável.  “Eu sou técnica em produção de moda, tenho inglês avançado, enho espanhol, sou formada em jornalismo, já trabalhei em uma revista de política e, atualmente, sou repórter da maior revista feminina do Brasil”, afirma. A jornalista conta que as primeiras barreiras impostas pela cor da pele, começaram durante uma entrevista de estágio, quando, mesmo tendo todos os requisitos, não foi aprovada. “E eu lembro que ele olhou o meu currículo e perguntou se eu falava inglês, eu falei que tenho inglês avançado e ele falou: fala comigo. Eu falei com ele, acabou a entrevista e depois me ligaram falando que eu não tinha passado. Ai eu tava conversando com uma amiga, ela disse que uma conhecida tinha passado no estágio [que estava tentado]. Então eu disse que tinha ficado insegura, então ela disse que a candidata que passou não sabe falar inglês.”

A realidade de Ana Carolina foi também da atriz, Luellem de Castro, aos 11 anos de idade, nos primeiros passos da profissão, a vida imitou a arte. E ela lembra do choque ao ouvir uma frase racista durante a gravação de um filme. “Uma hora o diretor ficou meio bravo e tinha uma menina que não fazia a marca dela, ela ficava parada na frente da câmera Então quando ele se irritou e foi perguntar o que tinha acontecido ela disse que a mãe dela tinha dito que ela era loira e bonita e tinha que aparecer mais que aquela menina [que era eu]. Ela fazia figuração e eu tinha um papel”, diz. Márcio Macedo, especialista em sociologia e coordenador de diversidade na Fundação Getúlio Vargas, explica que o que o racismo pode ser considerado como um sistema de dominação. Um dos efeitos é gravemente sentido no mercado de trabalho. E, nesse contexto, as mulheres são as mais afetadas. Um levantamento realizado pelo Insper, Instituto de Ensino e Pesquisa, baseado em dados do IBGE, revelou que homens brancos com curso superior ganham em média 159% a mais que mulheres negras que também cursaram uma faculdade, e ocupam os mesmos cargos. Seja com ensino superior público ou privado. Segundo Márcio, o acesso a uma educação de base de qualidade ainda é a primeira barreira encontrada por negros e pardos no Brasil. “Isso estabelece já um tipo de desigualdade que vai impactar na maneira como essa população negra, majoritariamente pobre e que tem índices maiores de analfabetismo, escolaridade mais baixa e de menor qualidade, no mercado de trabalho. Eles vão ocupar posições que têm uma remuneração mais baixa.”

Para o professor de ciências humanas e relações internacionais da Universidade Federal do ABC, é bem difícil fazer um comparativo entre negros que vivem dentro e fora do nosso território. Isso porque mesmo negros que vivem em regiões periféricas nos Estados Unidos, por exemplo, tem mais oportunidades do que um negro afro brasileiro. “E os Estados Unidos, a gente está falando de um país que ainda tem a principal economia do mundo. Uma das economias mais dinâmicas. Isso possibilita a formação de uma elite negra e quando falamos de elite negra nos Estados Unidos não estamos falando de milionários, estamos falando de bilionários”, afirma. Do universo corporativo ao esportivo a história se repete. No último dia 13 de setembro, o jogador Neymar do Paris Saint German foi vítima de racismo durante uma partida do campeonato francês, onde foi chamado de macaco pelo adversário. Além do jogador brasileiro, atletas como o ginasta Ângelo Assumpção, o piloto Lewis Hamilton e a tenista negra japonesa Naomi Osaka também já relataram casos de racismo. Segundo o Código Penal Brasileiro, ofensas e injúrias que utilizam raça, cor, etnia, religião ou origem geram punições que vão de um a três anos de prisão e multa.

*Com informações da repórter Hanna Beltrão

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