O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é a principal porta de acesso ao ensino superior no Brasil, seja em instituições de educação públicas ou privadas. É um dos maiores exames de avaliação de estudantes do mundo, perdendo em quantidade apenas para o Gaokao, o “Enem chinês”, que tem uma participação de mais de nove milhões de estudantes contra os seis milhões de candidatos esperados para o Enem deste ano. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) anunciou que, a partir de 2021, o Enem será realizado de forma seriada, com base nos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), e passará a ser aplicado anualmente para todas as séries do ensino médio.
Este assunto está em pauta e precisa ser discutido, visto que a mudança pode significar uma melhor adaptação do aluno na realização dos processos avaliativos. A avaliação sempre foi um ponto de embate, da educação básica ao ensino superior, incluindo as avaliações em larga escala. Sabemos que os processos como esses precisam mudar, precisam ser mais inclusivos, ao mesmo tempo que precisam ser mais efetivos. O fato de ser uma mudança positiva está na possibilidade de deixar de concentrar todos os conteúdos e objetos de aprendizagem em uma única prova, o que já foi provado e testado que é uma forma de avaliação ineficaz e que pode dar ao aluno a sensação de punição.
É preciso aceitar que o estado emocional de um aluno ao realizar uma avaliação é importante e decisiva. Cobrar dele todo o percurso educacional da educação básica é por deveras maçante e estressante. Não foge muito do vestibular tradicional. Ao ampliarmos a possibilidade da avaliação seriada, além de podermos aprofundar a avaliação, já que teremos mais de uma possibilidade, estaremos também permitindo ao aluno uma adaptação e um preparo melhor para cada uma das fases. Estudos mostram que uma parcela significativa de alunos que ingressa no ensino médio não chega ao terceiro ano. O índice de alunos que ingressam no ensino médio e que se evadem da escola antes de concluí-lo chega próximo de 50%.
Acredito que o processo seletivo seriado poderá ajudar os alunos, os professores e as escolas a conhecerem melhor suas dificuldades durante o percurso, e não só no final dele. É importante ressaltar que temos no Brasil experiências bem-sucedidas quanto ao processo seletivo seriado, embora sejam poucas, mas que foram realizadas por universidades onde os alunos fazem avaliações sequenciais a cada ano. Neste momento, percebemos que o ponto frágil dessa mudança está mais relacionado ao momento de excepcionalidade que vivemos, contudo, toda avaliação no novo modelo poderá ser enviesada se analisarmos sua eficácia com resultados distorcidos. É claro que a desigualdade entre alunos de escolas públicas e privadas sempre foi muito evidente, devido à qualidade e ao acesso ao ensino.
Mas, não podemos negar que essa situação se agravou neste ano de suspensão de aulas presenciais, se considerarmos o acesso às aulas proporcionadas pelo ensino remoto. Entretanto, é preciso melhorar o acesso ao ensino para todos os alunos e não impedir os alunos de realizar os exames nacionais. Acredito que, mesmo com erros e distorções, precisamos avançar. É importante lembrar que o exame seriado é opcional e, portanto, os alunos poderão ainda realizar o exame tradicional, como acontece hoje. O coeficiente produzido por provas seriadas tende a ser mais justo. Primeiro porque permite avaliar melhor cada etapa de ensino, segundo porque também contribui com a escola para corrigir eventuais falhas durante o percurso. E um terceiro ponto que acho justo destacar é que o aluno vai se conhecer melhor, identificar seus pontos críticos e poder se preparar melhor durante a caminhada.
Muitos alunos, principalmente de escolas menos favorecidas, não têm a real dimensão do quanto estão distantes de outros estudantes que estão no mesmo ano ou idade/série que ele. Ao receber seu coeficiente de avaliação, por exemplo, no primeiro ano do ensino médio, pode compará-lo com os demais índices obtidos por outros estudantes, isso servirá como um bom sinalizador para traçar novas rotas de estudo. Portanto, acredito que a mudança vai beneficiar, a médio prazo, os alunos de maneira geral.
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