O avanço de 0,45% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) em setembro não traz riscos para o retorno da inflação no Brasil. Apesar do indicador revelado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira, 23, ser a maior alta para o período desde 2012 e apontar para o quarto avanço seguido do IPCA, as consequência da crise do novo coronavírus na economia, como o aumento do desemprego e a incerteza com o ritmo de recuperação, não permitirão o aumento generalizado sobre os preços no longo prazo. No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA-15, que é considerado a prévia da inflação oficial, registrou avanço de 2,65%, ainda abaixo do centro da meta para a inflação de 4%, projetada pelo Banco Central para este ano, com margem de variação entre 2,5% e 5,5%. Entre janeiro e setembro, o índice somou alta de 1,35%.
Para analistas, a alta de 1,48% do grupo de alimentos e bebidas mostra pressão localizada e temporária causada por uma série de fatores, como o maior consumo desses produtos pela população — grande parte impulsionado pelo auxílio emergencial e as medidas de isolamento social —, além do crescimento da demanda por alimentos nos mercados internacionais e a permanência do dólar alto. Segundo Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, excluindo esse repique no valor dos alimentos, a variação de preços está sob controle. “Segmentos importantes estão sendo pressionados, mas a economia fraca impede que eles acelerem muito. O Banco Central tem um papel importante nesse controle com a política monetária para manter a inflação baixa. Enquanto ele continuar trabalhando neste sentido, se mantém a expectativa de controle da inflação”, afirma.
A alta no valor dos alimentos deve continuar pressionando o IPCA até o fim do ano pela continuidade dos fatores que fizeram os preços subirem nas últimas semanas. Para o economista Walter Franco, professor do Ibmec de São Paulo, o aumento do desemprego esperado para os próximos meses e o receio da população sobre o futuro da retomada econômica não criam cenário para a prolongação deste aumento. “É algo pontual e que não se sustenta no longo prazo. Se for pensar em curto espaço de tempo, o auxílio emergencial, o câmbio elevado e a estocagem de alimentos podem continuar pressionando os alimentos, mas quando chegarem as novas safras, esses valores vão cair.”
O mercado financeiro estima que a inflação irá encerrar o ano em 1,99% neste ano e a 3,01% em 2021, segundo o boletim Focus divulgado pelo BC nesta segunda-feira, 21. Para o ano que vem, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estima o centro da meta oficial de 3,75%, com margem de variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Sérgio Vale, da MB Associados, afirma que itens de consumo que ainda não tiveram os preços alterados em meio à crise, como vestuário, podem criar pressão na inflação no próximo ano. “É preciso acompanhar outros segmentos que não tiveram alta. Se o preço dos alimentos continuarem elevados, essa pressão adicional de outros itens pode criar situação delicada.” O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic, a principal ferramenta para controle da inflação, em 2% ao ano. Apesar de afirmar que o valor pode ser revisto, os últimos avanços da variação de preços podem manter a taxa de juros da economia brasileira neste patamar pelos próximos meses.”Não é uma inflação preocupante, mas é preciso ter cuidado. O Banco Central não tem muito espaço para subir ou descer com a Selic, então os últimos dados do IPCA devem consolidar a decisão do Copom em manter em 2% por um bom tempo”, afirma o economista.
Compartilhe