Remédios do dia a dia podem levar ao declínio cognitivo


Anticolinérgicos são utilizados para inúmeras condições, de alergias a depressão, e estão associados ao risco aumentado para problemas de memória Volta e meia trato do tema, justamente porque é da maior importância para uma longevidade ativa. Consumimos remédios em demasia e, conforme envelhecemos, a quantidade aumenta: idosos compõem o grupo etário que recebe o maior volume de prescrições médicas. A questão é que há uma classe de drogas utilizadas para inúmeras condições, de alergias a resfriados, de pressão alta a depressão, que pode estar associada ao risco aumentado para problemas de memória e declínio cognitivo, particularmente em pessoas com fatores genéticos que predisponham à Doença de Alzheimer.
O estudo foi publicado no início do mês na edição on-line da revista “Neurology”. Há cerca de 100 drogas desse tipo: são os anticolinérgicos, usados, por exemplo, para rinite, enjoo, incontinência urinária, Doença de Parkinson e pressão alta. O levantamento mostrou que pessoas sem problemas psíquicos que tomam pelo menos um anticolinérgico têm 47% mais chances de desenvolver um prejuízo cognitivo leve – que pode ser um precursor da demência – no prazo de uma década, se comparadas com aquelas que não fazem uso de medicação. “Nossa descoberta sugere que reduzir o uso de drogas anticolinérgicas, antes que as pessoas apresentem sintomas de perda cognitiva, pode prevenir as consequências negativas para o cérebro”, afirmou Lisa Delano-Wood, pesquisadora da Universidade da Califórnia San Diego.
Medicamentos da classe dos anticolinérgicos podem estar associados ao risco aumentado para problemas de memória e declínio cognitivo
Pexels por Pixabay
O trabalho envolveu 688 pessoas, com idade média de 74 anos, que não tinham dificuldades de memória e raciocínio no começo do estudo. Os participantes relatavam se estavam tomando anticolinérgicos e com que frequência, submetendo-se a testes anuais por um período de dez anos. Um terço do grupo ingeria até 4.7 remédios por pessoa, sendo que os mais comuns eram loratadina (para alergia), atenolol e metropolol (para hipertensão), bupropiana (para depressão). Como são drogas diferentes, os pesquisadores determinaram o impacto nos pacientes baseando-se no número de medicamentos e na dosagem.
Dos 230 que faziam uso da medicação, 117 desenvolveram algum tipo de deficiência cognitiva, comparados com 192 das 458 pessoas que não tomavam os remédios. As pessoas com marcadores para Alzheimer tinham quatro vezes mais chances do surgimento do quadro, e o risco era de 2.5 vezes para aquelas com risco genético. Embora a forma como idosos metabolizam anticolinérgicos seja diferente da que ocorre entre os mais jovens, constatou-se que a maioria dos pacientes que participaram utilizava drogas em doses acima das recomendadas para sua idade.
Criada em 1991 pela Sociedade Americana de Geriatria, a lista de Beers relaciona os medicamentos inapropriados ou pouco seguros para serem administrados a idosos. Passa por atualizações periódicas e a última foi divulgada em 2019. Um grupo de especialistas fez alterações nas orientações que estavam vigentes desde 2015. Entre elas, evitar o AAS para prevenção primária de doença cardiovascular acima de 70 anos, por causa do risco de sangramento, e não fazer uso de opioides com benzodiazepínicos. Conversa obrigatória no consultório.

Compartilhe