Sema antecipou em 15 dias o início do período de proibição: a medida entrou em vigor no dia 1º de julho e segue até o dia 30 de setembro. Isso, porém, não surtiu efeitos significativos no controle dos incêndios. MT quase triplica registro de queimadas no período proibitivo em dois anos, diz ICV
José Medeiros/ICV
Mesmo com o prolongamento do período de proibição das queimadas, Mato Grosso registrou segunda alta consecutiva em índices de queimadas no estado neste ano.
Os dados, divulgados nesta sexta-feira (25), são do Monitor de Queimadas do Instituto Centro de Vida (ICV), ferramenta interativa que utiliza informações disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Entre julho e o dia 20 de setembro, foram 30,5 mil focos de calor distribuídos nos três biomas abarcados pelo estado, um aumento de 45% dos pontos de calor detectados entre julho e todo o mês de setembro de 2019, com 21 mil focos. No mesmo período de 2018, foram registrados 11 mil focos.
Apenas nos primeiros 20 dias de setembro deste ano, houve um aumento de 65% em comparação com todo o mês de setembro do ano passado.
Todo ano, a prática é proibida durante a época de estiagem, quando a vegetação está mais vulnerável aos incêndios florestais.
Antecipação do período
Neste ano, a Secretaria de Meio Ambiente (Sema/MT) antecipou em 15 dias o início do período de proibição: a medida entrou em vigor no dia 1º de julho e segue até o dia 30 de setembro. Isso, porém, não surtiu efeitos significativos no controle dos incêndios.
No estado inteiro, os imóveis registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR) concentram a maior parte dos focos de calor, com 51% do total (15.440), seguidos das áreas não cadastradas com 26% (8.037) e das terras indígenas com 17% (5.080).
A maior parte dos focos no período ocorreu na Amazônia, com 11.676 focos (38,22%), seguida do Pantanal com 9.983 focos (32,51%) e do Cerrado com 8.943 focos (29,27%).
Dos biomas, o Pantanal segue sendo proporcionalmente o mais afetado. Enquanto setembro inteiro de 2019 registrou 800 focos de calor, nos primeiros 20 dias de setembro o bioma em Mato Grosso contabilizou mais de 5 mil focos de calor.
Os índices mostram que o estado sofreu a maior parte das queimadas na área brasileira do Pantanal, que abrange Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
De um total de 15.963 focos de calor de janeiro ao dia 20 de setembro no Pantanal brasileiro, 66% (10.481 mil) ocorreram em Mato Grosso e 34% (5.482 mil) em Mato Grosso do Sul.
Impacto dos incêndios no Pantanal
Na porção mato-grossense do Pantanal, o fogo atingiu cerca de 1,7 milhão de hectares em 2020. A área equivale a quase um terço do bioma no estado.
Os dados são do período de janeiro até o dia 17 de setembro e são resultado de análise técnica realizada pelo Instituto Centro de Vida (ICV) com base em dados da Global Emissions Fires Database, da Nasa.
Um dos fatores que levaram à situação atual foi a seca severa no bioma, que fez com que o rio Paraguai atingisse o nível mais baixo desde os anos 1960.
A condição está diretamente relacionada aos altos níveis de desmatamento na Amazônia.
Segundo Vinícius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV, estudos apontam que, com a aceleração do desmatamento da Amazônia, o período de chuvas tem encurtado e as secas se tornaram mais severas nas regiões central e sudeste do país.
Dos estados da Amazônia Legal, Mato Grosso também figura como segundo que mais desmata a floresta amazônica em território brasileiro.
Entre agosto de 2019 e julho de 2020, foram registrados 1.880 km² de áreas com alertas de desmatamento no estado, uma área maior que o município de São Paulo.
Em geral, o uso do fogo está relacionado com a limpeza dos terrenos para pastagem após o corte raso da vegetação ou para renovação da pastagem.
Com a seca, o fogo nas áreas onde foi utilizado para fins agropecuários fugiu de controle e os incêndios tomaram grandes proporções.
Vídeos: incêndios no Pantanal
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