SÃO PAULO – Faltando exatamente cinco semanas para a eleição presidencial, nesta terça-feira (29) ocorre o primeiro de três debates entre os candidatos Joe Biden e Donald Trump, em Cleveland. E com um cenário bastante agitado e diversas discussões ocorrendo no país, este encontro já promete quebrar o recorde de audiência de 84 milhões de espectadores em 2016.
Com as campanhas prejudicadas por conta da pandemia do coronavírus, fazendo com que grandes comícios não possam ocorrer e o dois candidatos não consigam se aproximar muito dos eleitores, os debates serão bem importantes para que Biden e Trump mostrem para a população suas propostas.
De um lado, analistas destacam que, historicamente, os debates não são decisivos diretamente para definir a vitória de um candidato, mas nem por isso ele deixa de ser bastante importante na corrida eleitoral, ainda mais em um ano tão atípico como 2020.
Segundo Carlos Gustavo Poggio, doutor em Relações Internacionais e professor da FAAP, a grande polaridade que há no eleitorado americano hoje reduz o impacto que o debate pode ter no resultado, diferentemente do que ocorre nas primárias, em que os encontros de pré-candidatos são decisivos.
Por outro lado, Victor Scalet, analista político da XP Investimentos, explica que o grande impacto causado pelos debates nos Estados Unidos estão no seu poder de “mudar a narrativa”, ou seja, a capacidade que cada candidato terá de fazer com que determinado assunto se torne o centro das atenções nos dias que se seguem o encontro.
Diante disso, Scalet acredita que se Biden conseguir, por exemplo, colocar o assunto saúde em destaque no debate, ele deve se favorecer, já que é uma pauta que tem sido melhor para os democratas diante das dificuldades que o atual governo de Trump tem tido para enfrentar o coronavírus.
“A gente acredita que Trump pode até se sair melhor no debate em si, mas a questão é que se Biden conseguir controlar a narrativa, a vantagem no fim será dele”, explica o estrategista. Segundo ele, é possível que as pesquisas realizadas logo após o encontro mostrem alguma diferença, ainda que pequena, mas historicamente o que se vê é que este impacto dura pouco e tende a não seguir até a eleição em si.
Já para Mitchell McKinney, especialista em debates e diretor do Instituto de Comunicação Política da Universidade do Missouri, em entrevista para o site MarketWatch, este debate pode ter uma decisão maior porque a corrida ainda está apertada nos chamados “swing states”, ou seja, estados em que não há favoritismo de nenhum candidato (clique aqui para entender como funciona a eleição nos EUA).
Atualmente o candidato democrata aparece com boa vantagem nas pesquisas eleitorais, liderando por 7,4 pontos percentuais no agregador 538 e por 7,1 p.p. no Real Clear Politics (RCP).
Desempenho no debate
Mesmo com esta avaliação de que o debate não afeta diretamente o resultado final da eleição, algo comum é se analisar logo em seguida ao encontro quem foi o vencedor. E, se para muitas pessoas, Trump tende a se sair melhor por ser uma pessoa que fala mais, para os analistas a avaliação não é tão simples.
Para Poggio, não é verdade que o republicano é um bom debatedor. “Em 2016, a avaliação geral foi que Trump perdeu os três debates contra a Hillary [Clinton, candidata democrata na época], apesar de no fim ele ter vencido a disputa”, lembra o professor.
O republicano, entre os dois, é quem gosta mais de se expor, de falar, muitas vezes de forma dura e com críticas aos adversários, mas não tende a se sair tão bem na argumentação mais direta de alguns assuntos.
Mais recentemente, durante evento com participação popular na Philadelphia, Trump teve dificuldades em responder perguntas do público, hesitou em diversos momentos e foi criticado por uma eleitora a quem tentou interromper, além de não responder várias perguntas diretamente.
A questão é que, do outro lado, Joe Biden é visto como um debatedor fraco e terá nestes debates a grande chance de se provar. Analistas viram seu desempenho como ruim nos debates das primárias democratas, com uma pequena melhora nos últimos encontros e com auges surpreendentes em seus embates diretos com o senador Bernie Sanders.
“Para que Biden ganhe [o debate], ele tem que superar as expectativas de que ele não consegue ficar parado por 90 minutos e juntar duas frases”, disse McKinney ao MarketWatch. “Mas ele também tem que demonstrar para democratas e eleitores em geral ansiosos e nervosos de que pode encontrar Donald Trump agressivamente e reagir”, completou.
Segundo Scalet, da XP, Trump deve ser mais incisivo no debate, enquanto Biden deve se defender mais, pelo menos no início, já que está com a vantagem nas pesquisas, ou seja, quem realmente precisa correr atrás é o atual presidente.
Temas sensíveis
Mais do que a expectativa para ver como os dois candidatos irão agir no debate, há ansiedade é alta para ver como os grandes temas recentes que têm agitado o país serão inseridos no encontro.
E para Poggio, um assunto que ganhou bastante força é a substituição da juíza Ruth Bader Ginsburg, que faleceu dia 18 de setembro. Trump anunciou no fim de semana o nome da ultraconservadora Amy Coney Barrett para a vaga.
A estratégia do presidente foi logo anunciar a substituta na expectativa de que consiga a aprovação no Congresso ainda antes da eleição (algo difícil de acontecer pelo calendário), o que ampliaria a vantagem que os conservadores têm hoje na Suprema Corte de 5 a 3 contra os liberais.
Esta discussão não só se tornou importante por conta do Supremo ser importante para definição de pautas de costume que afetam a população, como aborto e saúde pública, mas também porque no fim de seu mandato, Barack Obama este na mesma situação e os republicanos disseram que não iriam avaliar um novo juiz antes da eleição.
Segundo pesquisa do Pew Research Institute, o tema da Suprema Corte é a terceira principal preocupação dos eleitores, depois da saúde e economia.
E nestes dois assuntos Biden e Trump devem se enfrentar bastante no debate. No primeiro, os democratas têm se saído melhor conforme a avaliação geral é que o atual governo tem tido um desempenho ruim no enfrentamento da pandemia do coronavírus.
Por outro lado, a economia foi uma arma bastante utilizada por Trump para mostrar como sua administração foi boa. Isso mudou por conta da crise da Covid-19, mas ele ainda tem conseguido usar o tema a seu favor quando ressalta o período pré-pandemia.
Outro assunto que deve ser bastante citado é o dos protestos antirracismo que têm ocorrido em todo os EUA desde março. Este promete ser um tema que irá gerar bastante discussão já que Trump costuma atacar governos estaduais de democratas como regiões com maior violência nestes atos, enquanto Biden deve apontar para o desempenho da polícia e pressionar no lado social da discussão racial.
No lado da política externa, Poggio acredita que não deve gerar tanto debate entre os dois candidatos, já que a população em geral tem uma visão mais pessimista sobre a China, por exemplo. Diante disso, tirando visões diferentes em detalhes de atuação, os dois tendem a concordar no assunto.
Por fim, outro ponto que entra de última hora neste debate é a recente polêmica da suposta evasão de imposto de renda de Donald Trump. De acordo com o jornal The New York Times, o presidente americano não pagou impostos em 10 dos 15 anos anteriores à sua eleição. Além disso, o republicano pagou somente US$ 750 em 2016 e em 2017, ano em que foi eleito.
Em nota enviada ao jornal americano, o advogado da Trump Organization, Alan Garten, disse que “a maioria das informações, se não todas, parecem estar imprecisas”. Isso se tornou mais uma arma que deve ser usada por Biden para atacar seu adversário no encontro desta terça.
Segundo Scalet, esta notícia é “neutra a negativa” para Trump, especialmente porque o tema pode pesar na disputa pelo eleitor do subúrbio de classe média alta.
O debate desta terça é o primeiro de uma série de três, que ocorrem ainda em 15 e 22 de outubro. Haverá ainda um encontro entre os vices Kamala Harris e Mike Pence, no dia 7 de outubro.
Para este ano, será apenar um moderador em cada debate para reduzir o número de pessoas envolvidas, sendo que no segundo encontro está programada perguntas de eleitores.
Todos os debates terão uma hora e meia de duração, sem intervalos, e serão transmitidos pelas principais redes de televisão dos EUA, além do YouTube.
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