(Bloomberg) – Os sinais de retomada da economia brasileira têm se intensificado, mas são desafiados por ameaças que vão da restrição fiscal à extensão do auxílio emergencial ao desemprego elevado, além das incertezas sobre a evolução da pandemia no país e no exterior.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que indicadores mostram uma “retomada em V” da atividade após o Caged, divulgado na sexta-feira, mostrar a criação de 131.010 empregos em julho, bem acima do esperado.
A economista-chefe do Banco Santander, Ana Paula Vescovi, ex-secretária do Tesouro, não vê retomada econômica em V e recorre a um símbolo da matemática – a raiz quadrada – para explicar o seu cenário. “Um mergulho no segundo trimestre, não tanto quanto se esperava, recuperação mais forte no terceiro trimestre e a partir daí uma recuperação mais lenta, mais gradual”, diz ela.
A restrição imposta pelo teto de gastos em meio à deterioração fiscal é um obstáculo à continuidade da ajuda emergencial que vem ajudando na retomada da economia, diz Marcelo Toledo, economista da Bradesco Asset Management.
Ele ainda vê como restrição a um maior crescimento o desemprego, que segue acima do visto na recessão entre 2014 e 2016.
O cenário é de recuperação muito lenta e heterogênea porque o Brasil não progrediu no controle do coronavírus e as pessoas devem manter uma poupança precaucional ainda elevada, diz Tatiana Pinheiro, economista-chefe do BNP Paribas Asset Management Brasil.
Para ela, a transferência de renda mais do que compensou a queda da massa salarial, mas há muito setores que não são ligados às necessidades básicas com desempenho inferior, como é o caso de serviços. O “risco positivo” ao cenário seria o surgimento de uma vacina.
Economistas vêm aliviando as projeções de recessão após surpresas positivas dos últimos meses nos dados da indústria e varejo. A projeção do mercado para a contração da economia este ano chegou a atingir 6,54% em junho e voltou para -5,46% na pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central na segunda-feira.
Setores como a agropecuária e mineração terão resultados “bem razoáveis” e segmentos como construção e investimentos cairão menos que o previsto, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. “Entretanto, os riscos fiscais e de mercado de trabalho permanecem e podem impedir uma recuperação de longo prazo.”
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