Uma empresa chinesa, com bom potencial de crescimento, até alguns anos atrás não precisava da China para crescer. Podia buscar financiamento nos Estados Unidos, lançando papéis na bolsa de Nova York. O gigante do varejo Alibaba, por exemplo, tem ações negociadas na bolsa de Nova York. Com as as ameaças do governo americano ao TikTok e serviços de outras empresas chinesas e também uma lei aprovada esse ano, o caminho para este dinheiro foi praticamente fechado. Daí que a China acaba de dar o próximo passo na competição com os Estados Unidos estimulando sua própria Nasdaq.
A Nasdaq foi criada há 49 anos. Voltada para as ações de tecnologia, ajudou a transformar a economia americana, impulsionando empresas como Microsoft, Apple, Facebook, Alphabet (dona do Google) e Amazon, hoje as mais ricas do mundo. Já a ChiNext existe há 11 anos, desde 2009. É uma bolsa voltada para as ações das empresas de tecnologia, reunindo 464 empresas chinesas, que valem US$ 118 bilhões. Nesta segunda-feira (25), estrearam as novas regras que tornam os lançamentos de ações na bolsa mais parecidos com os IPOs aqui e em outros lugares. Até a semana passada, lançar ações na ChiNext era um processo lento. Podia demorar meses ou até mesmo anos de discussão com os reguladores. Agora quase todo o processo foi passado à bolsa de Shenzhen, a segunda mais importante da China.
Logo no primeiro dia, ações de 18 empresas começaram a ser negociadas, se aproveitando da regra de que até a próxima sexta-feira (28) a flutuação na bolsa será livre. Em um pregão alguns papéis subiram mais de 1.000%. Na próxima semana, passam a seguir a flutuação normal da bolsa, podendo subir ou cair no máximo 20% por dia. Antes eram 10%. Ainda não é o nível de liberdade conhecido nos mercados mais desenvolvidos, mas remove restrições para lançar e operar ações sempre travaram o mercado chinês. O governo vem destravando nós burocráticos e liberando mercados Só que o que devia ser uma boa notícia, tem um lado negativo. Buscando financiamento americano, as empresas chinesas promoviam a aproximação das duas economias. Existe muita pressão de investidores americanos, por exemplo, para que sejam mais transparentes, aceitando padrões contábeis mais rígidos e verificáveis. Ao promover suas empresas de tecnologia, a China apoia a inovação, mas ao custo do isolamento. E as duas maiores economias do mundo seguem cada vez mais afastadas. Devia ser o contrário.
*Samy Dana é economista e comentarista na Jovem Pan.
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