Samy Dana: Discurso do presidente do Fed mobiliza mercados

A elite financeira e política do mundo costuma se reunir em Davos, na Suíça, todo início de ano.  O evento, que é tema do documentário, “O Fórum”, que estreou nas plataformas de streaming na semana passada, atrai de bilionários a presidentes. De militantes a príncipes e popstars, como Bono Vox, do U2, discutindo os grande temas mundiais.  As pretensões do Fórum de Jackson Hole são bem mais modestas. É possível que pouca gente tenha ouvido falar do encontro anual, que acontece há 38 anos, desde 1982, numa estação de esqui do Wyoming, Estados Unidos. Mas é no fórum de dirigentes dos bancos centrais que o mundo financeiro vai estar de olho hoje, com o discurso de Jerome Powell, o presidente do Federal Reserve. Por tradição, o banco central americano é mais preocupado com a inflação. Mas o que se espera do discurso é que Jerome Powell, contrariando essa tradição, sinalize uma mudança, priorizando a retomada da economia. Ou seja, que passe a tolerar a inflação mais alta, ainda que moderada, com a promessa de mais crescimento para acelerar a recuperação pós-covid.

Atualmente, as taxas de juros americanas já estão entre zero e 0,25%. Alguns, como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defendem que passem a ser negativas, estimulando crédito e mais gastos. São palavras que os investidores, principalmente das bolsas americanas, que vêm de recorde em cima de recorde nas últimas semanas, mas também da B3 e outras, gostariam de ouvir.

Se for o que o presidente do Fed vai dizer, sinal verde para mais altas. Não será surpresa um dia de euforia nos mercados. Isso que a Nasdaq já subiu 28% no ano e o S&P 500, quase 7%, apesar do coronavírus. Só o Dow Jones está negativo, caindo menos de 2%. Mas um discurso que sinalize menos ajuda à economia e que o foco na inflação continua, certamente não será bem recebido. Ou seja, as bolsas provavelmente vão cair.  Não por muito tempo, já que a quantidade de dinheiro injetada pelo Federal Reserve –  US$ 1,5 trilhão – ainda tem fôlego para impulsionar os mercados. Mas o clima de torcida por mais estímulo é grande. E deve ser um dia de fortes emoções.

*Samy Dana é economista e comentarista da Jovem Pan.

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