Em meio a manifestações e a uma profunda crise política no Líbano, o primeiro-ministro Hassan Diab demitiu todo o gabinete do governo e renunciou ao cargo em discurso transmitido pela televisão nesta segunda-feira, 10. “Os sistemas de corrupção são maiores que o Estado”, disse o chefe de governo libanês, que havia formado gabinete em dezembro do ano passado, após uma onda de protestos populares que levaram à renúncia do então primeiro-ministro Saad Hariri. O premiê demissionário Hassan Diab responsabilizou a classe política pela crise que o Líbano atravessa, pelo uso de métodos que classificou como ‘sujos’, mas não citou qualquer nome ou partido.
Mais cedo, a ministra da Justiça, Marie Claude Najem, também deixou o cargo após entregar um carta formal em que cita o ‘desastre’ ocorrido na última terça-feira, 4, e as manifestações nas ruas de Beirute como justificativa para a sua saída. A ministra da Informação do Líbano, Manal Abdel Samad, e o ministro do Meio Ambiente, Damianos Kattar, deixaram seus cargos no último domingo. Um dia antes da explosão, o então ministro das Relações Exteriores renunciou, alegando discordâncias com a atuação do governo e disse que o país caminha para se tornar um “estado falido”.
Beirute, capital do país, encara o terceiro dia consecutivo de protestos. A população foi às ruas contra o governo exigindo justiça para as vítimas das explosões registradas na última terça-feira que transformaram a capital do país em uma zona de guerra e deixaram mais de 150 mortos, além de 5 mil feridos e dezenas de desabrigados. Najem, então ministra da Justiça, foi um dos principais alvos de críticas de quem foi às ruas nos últimos dias. Durante ato público, ela chegou a ser hostilizada nas ruas. Em sua carta de demissão, Najem diz que “a profunda crise e a situação excepcional que presencia a pátria nos impõe a recorrer à vontade do povo”.
As manifestações contra o governo do Líbano começaram em outubro de 2019 por causa do aumento de impostos, mas cresceram como uma forma de oposição ao regime sectário do país, a falta de desenvolvimento econômico, a corrupção e levaram Saad Hariri a deixar o cargo. “Alguns não leram bem a revolução dos libaneses de 17 de outubro (data que os protestos começaram). Era contra eles, mas não entenderam”, disse Hassan Diab em seu discurso de renúncia. Após as explosões da última terça-feira, os protestos na capital libanesa reacenderam.
As autoridades temem que as explosões na zona portuária da capital do país possam provocar uma crise alimentar, já que o Líbano importa 85% do que consome e já enfrentava dificuldades econômicas. Parte do trigo estocado em Beirute foi destruído e a população está preocupada com a possível falta de pão. Especialistas investigam se uma substância usada na produção de explosivos e fertilizantes pode ter sido a causa da enorme explosão que arrasou parte de Beirute na última terça-feira, 4. Segundo o presidente libanês, Michel Aoun, 2.750 toneladas de nitrato de amônio vinham sendo armazenadas num depósito na região portuária havia pelo menos seis anos sem o devido cuidado. Incidentes semelhantes com a mesma substância já foram registrados em outras partes do mundo. Outras hipóteses, como a de um atentado, ainda não estão descartadas. Aoun disse que vai investigar as causas do incidente e que “ninguém está acima da lei”.
Ajuda do Brasil
No último domingo, 9, em conferência virtual com outros chefes de Estado, o presidente Jair Bolsonaro anunciou ajuda humanitária do Brasil ao Líbano e convidou o ex-presidente Michel Temer, filho de libaneses, para chefiar a missão. Temer disse, por meio de nota, que está honrado com o convite feito por Bolsonaro. Aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) levarão medicamentos, equipamentos de saúde e alimentos para o país árabe.
A videoconferência que Bolsonaro participou foi organizada pela ONU e pelo presidente da França, Emmanuel Macron, para arrecadar doações e ajudar o Líbano a se recuperar da explosão. Macron pediu às lideranças políticas do país que ajam para evitar o colapso da nação e que respondam ao apelo da população por responsabilidade.
*Com informações da Agência EFE
Compartilhe