A possível volta de Fabrício Queiroz à prisão e suas implicações para o governo Bolsonaro



SÃO PAULO – O possível retorno do ex-policial militar Fabrício Queiroz à prisão deve trazer novas preocupações ao Palácio do Planalto em um momento em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) buscava se afastar de atritos com os demais Poderes e evitava reagir às notícias sobre o caso.

Este foi um dos assuntos do podcast Frequência Política. programa é uma parceria entre o InfoMoney e a XP Investimentos. Ouça a íntegra pelo player acima.

Amigo pessoal da família presidencial, Queiroz é apontado pelos investigadores como operador de um esquema de “rachadinha” (coação de funcionários para devolução de parte dos salários) no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), à época em que o filho do presidente exercia o mandato de deputado estadual na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro).

Ele foi preso preventivamente em junho, mas cumpria prisão domiciliar há pouco mais de um mês, por liminar do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), durante o recesso do Poder Judiciário. O ministro Félix Fischer, relator do caso, revogou ontem (13) a decisão e determinou seu retorno à cadeia, assim como a prisão de sua esposa, Márcia Aguiar.

A decisão ocorre em meio a fatos novos negativos à família Bolsonaro sobre o caso. Na semana passada, a revista Crusoé revelou que Queiroz depositou pelo menos 21 cheques para a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Dados obtidos pela quebra de sigilo bancário do ex-assessor, autorizada pela Justiça, detalham as movimentações, que somam R$ 72 mil entre 2011 e 2016 para a esposa do atual presidente.

Em 2018, quando o caso Queiroz tornou-se público, um relatório do antigo Conselho Controle de Atividades Financeiras (Coaf) havia citado um cheque de R$ 24 mil depositado pelo ex-assessor em favor de Michelle Bolsonaro.

À época, o presidente justificou que a movimentação seria referente a parcela do pagamento de uma dívida e disse que o montante depositado seria ainda maior, de R$ 40 mil. Os fatos novos contradizem a versão ou ao menos exigem novas explicações.

Nesta semana, o jornal Folha de S.Paulo também mostrou que a personal trainer Nathália Queiroz, filha do ex-policial militar, continuou repassando a maior parte de seu salário ao pai mesmo quando passou a trabalhar no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro.

Dados da quebra de sigilo bancário de Nathália, autorizada pela Justiça, mostram que ela transferiu R$ 150.539,41 para a conta do ex-assessor de janeiro de 2017 a setembro de 2018. Os repasses, segundo a publicação, teriam sido interrompidos logo após suposto vazamento de informações a Flávio Bolsonaro sobre as investigações.

“É um combo bastante negativo ao Palácio do Planalto. A estratégia, em meio a essa chuva de notícias, é se distanciar do assunto, deixar a defesa de Flávio Bolsonaro atuar e focar nas notícias da economia”, observa Débora Santos, analista política da XP Investimentos.

A especialista chama atenção para um pedido de habeas corpus para o casal, sob a relatoria do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Pelo histórico do magistrado em questões relativas a prisões temporárias, acredita-se que as chances de soltura do casal são significativas.

Para Débora, o caso das rachadinhas representa hoje o maior risco jurídico ao presidente Jair Bolsonaro. “Essa questão é de uma facilidade do entendimento do público muito maior do que a interferência na Polícia Federal, as questões de disseminação em massa de fake news nas eleições ou até mesmo o inquérito das fake news”, diz.

“O presidente Jair Bolsonaro não é implicado nessas investigações, ele não é investigado. O nome dele não está envolvido em nenhum aspecto dessas investigações, nem o da primeira-dama. Agora, esse cenário pode mudar a partir dessas revelações desta semana”, complementa.

Já Júnia Gama, também analista política da XP Investimentos, chama atenção para a postura menos enérgica do presidente Jair Bolsonaro nessas questões, o que pode ajudar no arrefecimento da crise.

“Ele não reagiu fortemente a nenhuma dessas notícias que saem desde a semana passada. Vimos um perfil muito diferente daquele Bolsonaro beligerante, que a tudo respondia em um tom muito elevado. A ordem é abafar o caso. Isso, por consequência, traz um ambiente mais abafado no Congresso”, conclui.

O assunto foi abordado na edição desta semana do podcast Frequência Política. Você pode ouvir a íntegra pelo SpotifySpreakeriTunesGoogle Podcasts e Castbox ou baixar o episódio clicando aqui.

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