Os preços de alguns alimentos da cesta básica estão mais caros. Feijão, óleo de soja e arroz subiram até 55%, dependendo da região do país. E o preço do leite, outro produto básico do nosso dia a dia, também já registra alta de mais de 30%. A alta mais evidente é a do arroz. Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP, aumentou 100% em um ano. Com o quilo a R$ 8, o presidente Jair Bolsonaro pediu na terça-feira que, por patriotismo, os donos de supermercado vendam arroz com lucro zero.
Diante de uma queda do Produto Interno Bruto de 5,31% projetada pelos economistas do mercado financeiro para este ano, segundo o Boletim Focus, do Banco Central, e com o desemprego em alta, a princípio, a alta nos preços dos alimentos soa estranha. Mas existem razões. Com a epidemia do coronavírus, as pessoas estão comendo mais em casa e fazendo estoque de alimentos. O aumento da demanda pegou os produtores no contrapé, com os excedentes já vendidos para exportações. E, como ensinam os livros de Economia, quando a demanda supera a oferta, os preços sobem.
O supermercado ainda disputa arroz, feijão e óleo com as vendas em dólar. Precisa pagar mais caro para ter o que vender. Segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas), as pressões por preços mais elevados vêm de muito mais produtos do que apenas estes três. O principal destino, como sempre, é a China. Com a guerra comercial com os Estados Unidos e a pandemia da Covid-19, os chineses viram o risco de faltar comida e também decidiram fazer estoques. Ficam, por exemplo, com um terço de toda a soja brasileira. É o mesmo que já tinha acontecido com a carne no fim de 2019. Não tem muito o que fazer, exceto evitar que falte arroz no supermercado até que o aumento da produção derrube os preços.
Mas ao pedir patriotismo aos donos de supermercado, o presidente tenta interferir no processo. E dá a impressão de não entender como os preços se formam. Não existe patriotismo no mercado. Ao exigir lucro zero, o presidente pede que os supermercados na verdade vendam com prejuízo, já que vão continuar pagando o preço ao fornecedor e mais os custos da venda. É a segunda vez em que o presidente, para lidar com um problema econômico, apela ao patriotismo. Em agosto, foi ao mercado financeiro, diante da queda da bolsa por preocupações com os gastos do governo. Os investidores deveriam, na visão do governo, ter mais amor à pátria e menos às suas aplicações. Mas tanto a queda da bolsa quanto a subida de preços reagem a problemas práticos. O risco de colapso nas contas públicas em um caso, a demanda maior por arroz no outro. Não será patriotismo que vai resolvê-los, mas soluções.
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