O governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) alcançou o maior patamar de aprovação já registrado desde o início do mandato, segundo a rodada de setembro da pesquisa XP/Ipespe. De acordo com o estudo, 39% avaliam o governo como ótimo ou bom (2 pontos percentuais a mais do que o índice de agosto), 36% o consideram ruim ou péssimo (1 ponto percentual a menos). O resultado marca o quinto mês consecutivo na alta do número de eleitores que aprovam o governo e queda entre os que reprovam. A pesquisa realizou 1.000 entrevistas de abrangência nacional entre os dias 18 e 11 de setembro. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais.
Victor Scalet, analista de política da XP, avalia que o recorde de aprovação do governo é consequência da soma de fatores políticos e econômicos. “Por um lado, percebemos que a popularidade do presidente está aumentando na faixa populacional que recebe até dois salários mínimos, um efeito direto do auxílio emergencial. Por outro lado, temos a visão da população com relação à própria dinâmica da pandemia do novo coronavírus – 60% afirmam que o pior já passou, contra 52% em agosto, assim, o presidente está ganhando espaço com a flexibilização e a retomada”, diz. Neste mês, o governo federal anunciou a prorrogação do auxílio emergencial até dezembro, com parcelas reduzidas de R$ 600 para R$ 300. Apesar de seu forte impacto no cotidiano da população, Scalet considera que o corte na prestação não deve impactar na popularidade de Bolsonaro. “A redução na prestação do benefício não parece ser um grande divisor de águas, uma vez que 47% da população aprovou a medida. O que pode impactar na aprovação do governo é o efeito indireto que a renda tem no cotidiano das pessoas.”
O analista afirma que a alta na popularidade de Bolsonaro coincide também com a mudança do comportamento político do presidente. “A aprovação aumentou desde que ele começou a conversar mais com a política, se aliou a blocos mais moderados. No entanto, é difícil isolar os efeitos que causaram essa ascensão. Neste momento de pandemia, tudo mudou muito rápido. Tivemos o efeito do auxílio emergencial pegando mais tração e, consequentemente, uma população relacionando a ajuda social à imagem do presidente. Em meio a todo o contexto, a moderação política pode ter contribuído.”
A pesquisa XP/Ipespe questionou os entrevistados sobre a reforma administrativa em discussão no Congresso. O grupo favorável à flexibilização de regras sobre a estabilidade para o serviço público cresceu de 52%, em novembro de 2019, para 56% neste mês. “As reformas administrativa e tributária têm apelo popular. A tributária é mais complexa porque a população considera muito elevada a atual carga tributária, mas não há espaço para reduzi-la em meio à dificuldade fiscal. Já a reforma administrativa, com maior apoio popular, é fundamental para abrir espaço no orçamento e para realocar recursos. Neste momento, temos uma forte demanda para programas sociais e ela poderia contribuir, inclusive, para a realização do Renda Brasil.” Com relação ao “Super Bolsa Família”, explanado pelo governo federal, Victor Scalet afirma que sua criação depende da maneira como será implementado. “Não existe espaço fiscal fora do teto de gastos para que o Renda Brasil seja colocado. Da maneira como está hoje, não poderá ser implementado. A solução seria reunir recursos de alguns outros programas menos eficientes, como o abono salarial, seguro defesa e salário família para abastecer esse novo programa. Poderíamos desenvolver um projeto duas ou três vezes maior do que o Bolsa Família, mas é preciso mexer em outras despesas para acomodá-lo, e isso é uma opção política”, conclui.
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