Boris Johnson eleva risco de Brexit sem acordo e analistas mudam projeções para futuro da relação com UE

SÃO PAULO – Depois de mais de três anos, o Brexit finalmente aconteceu no início de 2020. Mas, para realmente entrar em prática, ainda restava um ano de negociações para acertar os detalhes e o Reino Unido oficialmente deixar a União Europeia na virada para o próximo ano.

Contudo, um entrave pode colocar tudo a perder.

Na última quarta-feira (9), o primeiro-ministro Boris Johnson apresentou uma lei ao Parlamento que propõe tutelar o mercado interno britânico no pós-Brexit, também revisando alguns pontos do acordo já assinado com a União Europeia.

Na prática, este novo documento autoriza o Reino Unido anular partes do pacto do Brexit, especialmente no que trata da questão das fronteiras entre Irlanda e Irlanda do Norte. A proposta foi bastante criticada tanto por aliados quanto por opositores de Johnson.

Isso aumentou o clima de tensão entre os blocos, com a União Europeia afirmando que os britânicos precisam abandonar urgentemente esta proposta. Segundo a Comissão, o Reino Unido estaria cometendo “uma violação extremamente grave” do Acordo de Retirada do ano passado se for adiante com a legislação proposta.

Após negociações de emergência nos últimos dias entre o vice-presidente da Comissão, Maros Sefcovic, e o representante britânico para o Brexit, Michael Gove, a UE informou que a proposta do Reino Unido “prejudicou seriamente a confiança”, pedindo que o projeto seja retirado. Gove, que é um dos ministros mais graduados de Johnson, disse que recusou o pedido descartar a proposta.

Em relatório, a equipe do Morgan Stanley afirma que este novo caso mudou as probabilidade sobre o Brexit, mas os analistas acreditam que um “acordo misto” ainda deve ser feito, com chances de 50% (contra 60% previstos anteriormente), com um acordo melhor do lado de bens industriais.

“Os riscos são distorcidos para um resultado mais difícil”, afirmam eles, dando uma chance de apenas 10% de um cenário mais otimista, com um acordo mais completo, contra 15% projetados antes. Já para o cenário de um acordo mais pessimista teve suas chances elevadas de 25% para 40%.

Neste pior cenário, os dois blocos não chegariam a um acordo e a relação entraria em vigor pelas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). Hoje, a tarifa média da UE é bastante baixa (cerca de 2,8% para produtos não-agrícolas) mas, em alguns setores, as tarifas podem ser bastante altas.

Segundo as regras da OMC, os carros seriam tributados em 10% quando cruzassem a fronteira do Reino Unido com a UE após o final do período de transição. E as tarifas agrícolas seriam ainda maiores, chegando a uma média de mais de 35% para os laticínios.

EUA: eleição pode impactar cenários

Além disso, para o Morgan, as eleições dos Estados Unidos poderão ter grande impacto no que irá ocorrer. Os analistas apontam que um possível acordo agora só deve vir no fim do ano, após o pleito americano de 3 de novembro.

Isso porque o governo do Reino Unido vê uma chance significativa de um acordo comercial estreito com os EUA, que é ainda mais provável caso o presidente Donald Trump permaneça no poder. Isso aumentaria a chance de um Brexit sem acordo, colocando a relação entre os blocos nas regras da OMC.

O Credit Suisse também elevou sua probabilidade de um Brexit sem acordo, passando de 30% para 40%. “O dano econômico de um Brexit sem acordo em meio a casos crescentes de Covid-19 provavelmente prejudicará a recuperação e possivelmente causará outra breve recessão no Reino Unido”, alertam os analistas.

Além disso, a equipe do banco suíço destaca que é importante acompanhar o caso para entender se os britânicos estão levando este projeto como uma forma de “carta na manga” para obter concessões da UE ou se eles realmente têm a intenção de fazer um Brexit sem acordo.

“Nosso cenário básico continua sendo que um negócio será fechado no último minuto. No entanto, os riscos de um não acordo estão aumentando e, durante as próximas semanas, a volatilidade dos ativos do Reino Unido provavelmente será alta”, afirmam os analistas do banco suíço.

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