Carol Solberg e Talita não foram as vencedoras da primeira etapa do vôlei de praia brasileiro, em Saquarema (RJ), após a retomada em meio à pandemia do novo coronavírus, mas foram as mais comentadas nas redes sociais. A razão foi o grito “Fora, Bolsonaro” de Carol em entrevista ao vivo ao SporTV, logo após conquistar a medalha de bronze. O ato, é claro, mobilizou apoiadores e opositores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Entre os apoiadores do presidente, muitos pediram que a atleta tivesse o patrocínio do Banco do Brasil cortado, já que ela aparecia usando uma peça da instituição nos jogos. Mas Carol não é patrocinada pelo banco, e sim o Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia. Da mesma forma, ela também não recebe o Bolsa Atleta atualmente, como foi ventilado. Em entrevista, a jogadora comentou as críticas ao governo Bolsonaro, explicou o que sentiu no momento em que fez o grito e defendeu que os atletas possam se manifestar. Carol é filha de Isabel, um dos grandes nomes do vôlei brasileiro na década de 80.
Por que o grito de “Fora, Bolsonaro” naquele momento?
“Quando estou em quadra é onde tenho voz, não planejei nada, foi totalmente espontâneo naquele momento.”
Quais são as suas críticas ao governo?
“Meu grito foi pelo Pantanal que está em chamas em sua maior queimada já registrada e continua a arder sem nenhum plano do governo. Pela Amazônia, que registra recordes de focos de incêndios. Pela política covarde contra os povos indígenas. Por acreditar que tantas mortes poderiam ter sido evitadas durante a atual pandemia se não houvesse descaso e falta de respeito à ciência. Por ver um governo com desprezo total pela educação e a cultura. Por ver cada dia mais os negros sendo assassinados e sem as mesmas oportunidades. Por termos um presidente que tem coragem de dizer que ‘o racismo é algo raro no Brasil’. São muitos absurdos e mentiras que nos acostumamos a ouvir, dia após dia. Não posso entrar em quadra como se isso tudo me fosse alheio. Falei porque acredito na voz de cada um de nós.”
O que você achou do posicionamento da CBV e da Comissão de Atletas de Vôlei?
“Sobre a nota da CBV, achei que foram muito infelizes. Usaram termos racistas, se colocaram de uma maneira totalmente diferente quando outro atleta se manifestou apoiando Bolsonaro. Sobre a Comissão, achei lamentável que eles lutem para silenciar os atletas. Ainda mais num momento onde tantos atletas no mundo inteiro têm se posicionado sobre questões tão importantes como o racismo.”
Por que você acha que a CBV teve um tratamento diferente nesse caso em comparação quando o Wallace e o Maurício declararam apoio ao Bolsonaro em 2018?
“Acho que eles foram, sim, tendenciosos. A pergunta é essa: por que numa manifestação a favor do presidente eles agem de uma forma e em uma contra eles agem tão diferente? Não dá para entender isso.”
O que você acha que vão ser as medidas que a CBV prometeu para evitar manifestações como a sua? Acha que pode ser punida?
“Eles ainda não agiram, não sei o que eles vão fazer, se eles vão me punir. Estou esperando que eles me procurem para falar sobre isso.”
A Talita sabia que você ia gritar o que gritou?
“A Talita não sabia, ela não tinha a menor ideia e nem eu tinha, na verdade. Não tinha a menor ideia de que ia gritar ali naquele momento, foi totalmente do momento.”
Muita gente te chamou de petista. Você apoia algum partido ou político?
“Eu não tenho nenhum partido, não sou ativista.”
Você acredita que pode ter alguma problema em questão de patrocinadores?
“Não consigo prever nada em relação a isso.”
Você tem recebido apoio após o caso?
“Tenho recebido muito apoio. Na verdade, todas as pessoas que eu admiro e que são importantes para mim só me deram força. Foi muita gente incrível.”
Você acha que falta os atletas brasileiros se posicionarem mais politicamente?
“Acho que sim. Isso de que não pode, não se deve, misturar esporte e política não dá mais. Numa democracia, todas as pessoas podem e devem expressar suas opiniões sobre qualquer assunto. Todo mundo tem o direito de se manifestar.”
Você apoia causas políticas de outras formas?
“Não sou uma ativista, mas no Brasil hoje em dia não tem como ficar alienado, não querendo falar de política.”
Você considera que é adequado o vôlei de praia já ter voltado a ser disputado em meio à pandemia?
“Me senti totalmente segura dentro do torneio, fomos testadas no início da semana e também um dia antes de a competição começar. Todos os protocolos foram seguidos e achei que foi bem legal.”
O que achou do desempenho da sua dupla nessa primeira etapa?
“Achei que foi um torneio incrível, fomos melhorando jogo após jogo. E curtimos muito estar em quadra, foi muito bacana estar no pódio novamente.”
*Com informações do Estadão Conteúdo
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