Casal suspeito de desvio milionário na Saúde do Rio alugava casa em condomínio de luxo em Campinas

Luis Eduardo Cruz e Simone Amaral da Silva Cruz são alvos de uma investigação que aponta desvios de R$ 6,5 milhões. Eles foram presos na manhã desta quinta no Interior de São Paulo.

Organização Social Iabas

Alvos de uma investigação sobre supostos desvios de R$ 6,5 milhões em contratos da Organização Social Iabas (Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde) com a Prefeitura do Rio, o ex-controlador da OS, Luis Eduardo Cruz, e a mulher dele, Simone Amaral da Silva Cruz, presos em Campinas (SP) na manhã desta quinta-feira (23), tinham se mudado para um condomínio de luxo no Interior de São Paulo havia uma semana.

De acordo com o promotor do Ministério Público (MP) de Campinas, José Claudio Tadeu Baglio, o casal alugou uma residência em um condomínio no bairro Gramado, área nobre da cidade, e morava no local desde de 16 de julho.

Anúncios em imobiliárias da cidade mostram casas milionárias, com valores que chegam a R$ 4,9 milhões. No caso de locação, os custos com o condomínio e o IPTU chegam a R$ 52 mil por mês.

A escolha por Campinas, segundo Baglio, pode ter relação com o fato de que o casal tinha parentes morando na região e até mesmo com a montagem de um escritório na cidade.

Segundo Baglio, assim que a equipe do Rio não localizou o casal no endereço na cidade, surgiu a informação de que eles estavam em Campinas, e um trabalho de investigação foi realizado para localizar o endereço. “Como a mudança tinha sido recente, conseguimos confirmar o local rapidamente”, explicou.

Materiais apreendidos

No imóvel foram apreendidos documentos, equipamentos eletrônicos como notebooks, computadores e celulares, além de memórias, pen drives e outros suportes de mídia. De acordo com o promotor, parte do material ainda estava encaixotado.

Ainda segundo o promotor, o cenário na casa indicava uma mudança recente, mas um detalhe chamou a atenção. Eles tinham informações sobre alguns carros que o casal costumava utilizar, mas eles já tinham trocado tais veículos. “Talvez não quisessem ser localizados”.

Apesar disso, a abordagem foi tranquila e não houve resistência por parte dos suspeitos. As diligências foram acompanhadas por advogados do casal.

O casal assim como o material apreendido foi encaminhado para a DIG de Campinas, e de lá foram transferidos até a divisa com o estado do Rio de Janeiro, com apoio do Grupo de Operação Especiais (GOE) onde serão entregues à polícia fluminense.

A operação

Além de Cruz e a esposa, localizados em Campinas, os empresários Marcos Duarte da Cruz e Francesco Favorito Sciammarella Neto foram presos na operação pela Polícia Civil e o MP do Rio de Janeiro (RJ).

Segundo a força-tarefa, a antiga gestão do Iabas recebeu, entre os anos de 2009 e início de 2019 — nas gestões de Eduardo Paes e Marcelo Crivella –, R$ 4,3 bilhões em recursos públicos, dos quais os R$ 6,5 milhões teriam sido desviados. Ainda não se sabe quando esse esquema começou.

Alvos na operação

  • Luis Eduardo Cruz, ex-controlador do Iabas;
  • Simone Amaral da Silva Cruz, esposa de Luis Eduardo;
  • Marcos Duarte da Cruz, irmão de Luis Eduardo;
  • Adriane Pereira Reis;
  • Francesco Favorito Sciammarella Neto, empresário.

Os cinco vão responder por peculato (desvio de recursos públicos), lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

‘Dissimulação’

O MP afirma que o Iabas foi estabelecido pelo grupo criminoso “sob o falso argumento de prestar serviços públicos de saúde, sendo utilizado, na verdade, para o cometimento de centenas de delitos de peculato e lavagem de dinheiro”.

Os investigadores sustentam que foi arquitetado “um complexo esquema criminoso” para a dissimulação do desvio de parte de recursos públicos.

“Apenas do Município do Rio de Janeiro, ente que mais repassou valores à OS, foram desviados mais de R$ 6 milhões a pretexto da execução de serviços de exames laboratoriais, jardinagem nas unidades de saúde, locação de veículos e manutenção predial”, dizem os promotores.

A investigação apura o envolvimento de pelo menos quatro prestadores:

  • Laboratório de Análises Clínicas Ipanema LTDA;
  • Arbóreas Consultoria e Execução de Projetos Ambientais S/C;
  • Escala X Arquitetura Manutenção e Design LTDA EPP;
  • Real Selection Comércio de Veículos LTD.

O que dizem os envolvidos

A assessoria do Iabas afirmou estar colaborando com as autoridades e disse que “aguarda o desenvolvimento das investigações para saber o que há de concreto nas ilações apresentadas pelo Ministério Público do Rio”.

“Todas as prestações de contas relativas aos contratos com a Prefeitura do Rio foram aprovadas, apenas as informações de 2019 ainda estão sob análise”, informou, em nota (veja a íntegra abaixo).

A Prefeitura do Rio afirmou em nota que o Iabas foi desqualificado na gestão Crivella e que o multou em R$ 27,7 milhões (veja a íntegra abaixo).

O ex-prefeito Eduardo Paes divulgou uma nota assinada pelo então secretário de Saúde, Daniel Soranz, em que afirma ter sempre atuado “com transparência e lisura em seus processos de licitação e contratação de empresas e OSs”.

Prisão em 2018

O casal preso em Campinas já havia sido detido em junho de 2018 numa investigação contra a Bio-Rio, um polo de empresas de biotecnologia então administrado pelo casal.

Segundo o MPRJ e a Polícia Civil, a Bio-Rio fez seis convênios com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio, entre 2014 e 2016, para a realização de cursos de pós-graduação para médicos do município.

Segundo a investigação, a prefeitura repassou mais de R$ 87 milhões, dos quais R$ 6 milhões foram para cobrir uma taxa de administração.

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