Demora nas privatizações afeta até os IPOs

Em cinco dias, três ofertas iniciais de ações, IPOs na sigla em inglês, foram adiadas na B3. No última quarta-feira, 23, o banco de investimentos BR Partners, que atua na área de fusões e aquisições, desistiu de entrar agora na bolsa. Nesta segunda, foi a vez da Cosan anunciar o adiamento do IPO da Compass, empresa de gás e energia. Entre uma empresa e outra, veio o adiamento da oferta inicial da Caixa Seguridade, braço de seguros da Caixa Econômica Federal. A Caixa Seguridade era considerada até a quinta passada a joia da coroa dos IPOs no Brasil este ano. Sua entrada na bolsa era vista quase como parte informal do programa de privatizações do governo, sendo o primeiro passo para a venda da Caixa. Além do mais, dos R$ 70 bilhões que a bolsa devia levantar com o lançamento de ações no ano, R$ 50 bilhões viriam do IPO da Caixa Seguridade. No total, com a tripla desistência, a conta emagrece em R$ 54 bilhões. Como justificativa, as três empresas disseram o mesmo: as condições de mercado se deterioraram. A demanda por novas ações caiu e, com menos compradores, um preço mais baixo para os papéis. Com a perspectiva de levantar menos dinheiro, as empresas preferem esperar e tentar o IPO daqui a alguns meses, se for o caso.

É um cenário surpreendente diante do que se via um ou dois meses atrás. Em julho e agosto, era grande a euforia na bolsa com a chegada de novas empresas. Ações chegavam ao mercado e no primeiro dia de negociação subiam 20% ou mais. Agora, dos quatro últimos IPOs marcados, só um foi realizado, o da Hidrovias do Brasil, na semana passada. Foi a maior oferta de ações do ano, tendo levantado R$ 3,4 bilhões. Mas com a ação no menor valor desejado para o lançamento e queda de 1,8% no primeiro dia de negócios. Agora a percepção entre os investidores é de que a janela dos IPOs se fechou. Uma das explicações é a saída de estrangeiros do mercado brasileiro. São R$ 85 bilhões de reais só de janeiro a agosto. Mas pesa muito o momento ruim do Ibovespa. Com as preocupações sobre os gastos públicos tomando o cenário, a bolsa perdeu fôlego depois de subir entre abril e julho. E os IPOs são afetados. E o caso da Caixa Seguridade agora é um símbolo dos problemas do governo para fazer privatizações. Em julho, Paulo Guedes prometia quatro grandes privatizações de empresas em 90 dias. No próximo dia 5, o prazo vence sem que nenhuma desestatização prometida pelo ministro da Economia tenha ocorrido. E o único processo de venda de ao menos parte de uma estatal que vinha encaminhado não se sabe mais quando vai acontecer.

Confira quais IPOs foram adiadas na B3:

Br Partners – R$ 885 milhões

Caixa Seguridade – R$ 50 bilhões

Compass – R$ 3,2 bilhões

Total: R$ 54,08 bilhões

 

*Samy Dana é economista e comentarista da Jovem Pan.

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