Dívida em economias avançadas é a maior desde a 2ª Guerra, e redução será difícil

Com os gastos governamentais para conter o novo coronavírus, a dívida pública nos países de economia avançada chegou a 128% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com o Fundo Monetário Internacional. Em 1946, após a Segunda Guerra Mundial, a dívida neste grupo estava em 124% do PIB. Naquele momento, a redução foi rápida, mas especialistas consideram que dificilmente isso acontecerá agora.

Após a Segunda Guerra, as economias avançadas experimentaram rápidas taxas de crescimento devido à alta das taxas de natalidade, que acelerou o aumento dos domicílios consumidores e da força de trabalho. Além disso, as circunstâncias eram as ideais para que as economias desfrutassem dos avanços da eletrificação, da urbanização e da medicina. A relação entre dívida e PIB caiu para menos de 50% em 1959.

Na segunda metade dos anos 1950, o PIB crescia cerca de 5% ao ano na França, quase 6% na Itália e mais de 8% na Alemanha e no Japão. “Teríamos sorte se tivermos metade disso na próxima década”, disse Nathan Sheets, ex-subsecretário do Tesouro americano para assuntos internacionais, e hoje economista-chefe da PGIM Fixed Income. Em anos recentes, o Reino Unido, os Estados Unidos e a Alemanha cresceram cerca de 2% ao ano. No Japão e na França, as taxas estiveram mais próximas de 1%, e a Itália mal cresceu.

Seria difícil recriar a “onda de otimismo” do pós-guerra diante da redução do crescimento populacional nas economias avançadas. No início dos anos 1960, as sete economias mais avançadas do globo tinham crescimento populacional de 1% ao ano ou mais. Hoje, nenhum dos membros do G7 apresenta tal alta, e na Itália e no Japão, a população está caindo.

Com isso, especialistas consideram que os governos devem passar a aceitar níveis maiores de dívida pública. Mesmo com o fim dos programas de auxílio econômico criados durante a pandemia, considera-se que a rápida queda de gastos vista no pós-guerra, com o fim de despesas militares, não deve se repetir. Desde os anos 1980, nos EUA, na Europa e no Japão, a dívida tem crescido com gastos com saúde e aposentadorias.

“Podemos evitar a explosão nos gastos durante a guerra, e não transformá-la em um massivo gasto social expandido à frente?”, questionou Glenn Hubbard, chefe do Conselho de Assessores Econômicos do governo George W. Bush.

Em outro ponto, nos anos 1940, a redução nos controles a salários e preços levou a uma alta na inflação que ajudou a reduzir a dívida. Agora, mesmo com a alta quantidade de estímulos, não há inflação à vista. E os bancos centrais têm comprado altas quantidades de títulos de dívida pública, reduzindo a porcentagem desses papéis nas mãos dos investidores, e remetendo parte dos juros pagos sobre estes títulos de volta ao governo.

O exemplo do Japão, onde US$ 4 trilhões dos US$ 11 trilhões em títulos em circulação estão nas mãos do Banco Central, é um exemplo de que a dívida pode crescer por um longo período sem desencadear uma crise fiscal. No entanto, os riscos da gestão da dívida são transferidos do Tesouro para as autoridades monetárias.

“Minha expectativa é de que os bancos centrais serão bem-sucedidos, mas isso traz desafios”, disse Sheets. “Sempre que você está em um terreno pouco familiar, há o risco de algo possivelmente dar errado. É uma questão geracional com a qual teremos que lidar por algum tempo.”

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