Maior qualidade de vida, possibilidade de trabalho remoto e mais áreas de lazer. Estes são alguns motivos que influenciaram a alta na busca por imóveis no interior de São Paulo durante a pandemia da Covid-19. O aumento dessa procura, associado à escassez dos terrenos, refletiu também nos preços das casas de campo, que cresceram de 20% a 70% nos últimos seis meses, segundo especialistas ouvidos pela Jovem Pan. Uma das principais opções são os condomínios de luxo, que oferecem espaços de lazer, networking, e são locais bem estruturados, o que dá a possibilidade de isolamento social e do home office, fator que se tornou indispensável na quarentena. Esses empreendimentos, porém, levam cerca de cinco anos para ficarem prontos. Por esse motivo, os preços não devem cair no curto prazo.
A busca por casas no campo em São Paulo cresceu mais de 600% desde março, e os preços tiveram acréscimo de 20% a 40% nos últimos seis meses, segundo a Bossa Nova Sotheby’s, empresa especializada no segmento de alto padrão. “Ainda tem margem para subir. Os preços não devem cair, porque há pouca oferta desses empreendimentos com essas características”, afirma Marcello Romero, presidente da empresa. “Por causa da alta demanda, muitas pessoas começaram a construir, e quem tinha comprado para especular, viu um aumento de 40% no valor do imóvel.” Segundo ele, a procura por casas no interior vinha aumentando nos últimos meses, e explodiu durante a pandemia.
A construtora e incorporadora Next Realty, que tinha como foco principal os estúdios, principalmente nos bairros Vila Nova Conceição, Itaim Bibi e Jardim Paulista, enxergou uma nova oportunidade com o mercado de condomínios de luxo no interior do Estado. Após sugestão dos próprios investidores, a empresa decidiu comprar quatro lotes no condomínio Quinta da Baronesa, em Bragança Paulista, para construir casas de 1.000 a 1.500 m², com seis a oito suítes. Entre julho e setembro, o valor do metro quadrado subiu de R$ 500 para cerca de R$ 800, uma valorização de 70%, segundo um dos sócios da Next, Felipe Antunes. Ainda de acordo com ele, o mesmo terreno adquirido pela construtora há três meses por R$ 1,5 milhão está custando, agora, R$ 2,5 milhões.
Imóvel no campo deve ser plano B
Para Antunes, a procura maior dos clientes é por qualidade de vida, mas dificilmente a casa de campo será a principal residência. “Foi uma possibilidade que surgiu na pandemia, mas em um primeiro momento não é uma virada de chave. Às vezes, os filhos vivem em São Paulo e, no interior, você não tem a mesma infraestrutura de colégios e universidades. Outro perfil de clientes nossos tem uma vida noturna muito agitada. Mas, de qualquer forma, ambos estão entendendo que nesse primeiro momento não é a primeira residência, é um investimento para quando forem se aposentar”, afirma.
De acordo com Romero, da Bossa Nova, o cliente de alto padrão normalmente tem uma segunda, uma terceira, e até uma quarta residência. Na imobiliária, há três grupos de pessoas: aquelas que estão decidindo ir para o campo de vez, por causa impacto da pandemia; algumas que vão ter este lugar como um refúgio; e as que ainda estão em dúvida e devem decidir qual é o real interesse depois da pandemia da Covid-19. “Não é um movimento que você faz da noite para o dia. Mas com certeza os espaços estão sendo revisitados, as pessoas querem ir para um lugar maior, há uma reflexão da qualidade de vida, do trabalho. Hoje conseguimos ser muito mais eficientes com as videoconferências, por exemplo”, diz.
Aumento da procura
Além da Bossa Nova Sotheby’s e da Next Realty, outras imobiliárias também viram a procura por imóveis no interior se intensificar, principalmente aqueles que ficam mais perto da capital, cerca de 110 a 120 km de distância. Uma pesquisa dos maiores portais de imóveis apontou, por exemplo, que essa procura cresceu em 2020 mais de 340% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a presidente da Ética Soluções Imobiliárias, Yslanda Barros. Ela enumera outro motivo: o adiamento das viagens internacionais por causa do novo coronavírus, que fez com que as famílias precisassem de uma válvula de escape. “A busca é por um lugar maior, uma área para descansar, passar os dias, uma temporada, férias ou mudar definitivamente mesmo”, afirma.
No ImóvelWeb, por exemplo, a procura por casas de campo em São Paulo cresceu 30% em junho com relação a maio. Em julho, houve mais um aumento de 18%. Já em agosto, houve uma pequena queda de 8% em relação a julho. Porém, comparando agosto de 2020 a agosto de 2019, o crescimento foi de 43%. Já de acordo com o Painel do Mercado Imobiliário (PMI), da proptech inGaia, em maio, a média de fechamentos por imobiliária no interior do estado teve um aumento de 27%, enquanto na capital foi de 9%. Em junho, continuou crescendo, sendo 32% maior que o mês anterior. Em julho e agosto, o crescimento foi mais tímido, 5% maior em julho, e cerca de 1% em agosto. Essa crescente no número do interior ratifica a mudança de comportamento na busca por imóveis durante o distanciamento social. Resta saber se esse movimento terá fôlego nos próximos meses.
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