Entra ano, sai ano e um problema persiste na cidade de São Paulo: a fila de espera das creches públicas. Até junho deste ano, a prefeitura tinha 22.732 pedidos de vagas. Uma dessas demandas é da Tamara Biglia, que é mãe do Elias, de sete meses. Desde março, ela tenta encontrar um lugar onde possa deixar o filho e voltar ao trabalho num escritório. “Tá difícil para voltar a trabalhar, minha licença maternidade já acabou e está bem difícil a voltar ao trabalho. Trabalho um pouco em casa, vou um dia para o trabalho, porque não tem com quem deixar [filho].”
A especialista em economia da educação pela FGV Priscilla Tavares diz que as últimas gestões conseguiram diminuir essa fila, mas ainda está longe de ser zerada. Na avaliação de Priscilla, mais do que apenas oferecer a vaga, a prefeitura precisa oferecer qualidade. “Mais do que ser uma instituição que vai acolher crianças de mães trabalhadores, a creche precisa ser um lugar em que as crianças vão receber cuidados, estímulos necessários para o seu desenvolvimento cognitivo e socioemocional”, afirma. A especialista critica também a qualidade do ensino fundamental, que atende crianças de seis a 15 anos de idade. O município de São Paulo ficou em décimo lugar entre as capitais brasileiras na última avaliação do IDEB, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. É um desempenho pífio considerando a quantidade de recursos que a gente tem. Temos algumas capitais no norte e no nordeste que estão na nossa frente e consegue fazer um trabalho melhor no sentido da aprendizagem do que São Paulo, que é uma capital que tem muitos recursos.”
Além dos problemas históricos, a pandemia do coronavírus trouxe novos desafios, como o da evasão escolar. Embora o abandono das salas de aulas seja mais comum nos anos finais do ensino fundamental, especialistas apontam que a crise econômica pode antecipar o problema. Na avaliação de Herbert João, educador da Universidade São Paulo, a prefeitura precisa garantir que todos os alunos voltem às salas de aula. “Esses jovens, que eventualmente evadem para iniciar o seu primeiro emprego ou por questões socioeconômicas, é muito importante que a escola tenha mecanismos de busca ativa destes estudantes e de aproximação com a família”, afirma. Herbert João ressalta, ainda, a importância da formação dos professores. “Hoje, nós vemos profissionais com estresse, então o suporte psicológico aos profissionais da educação é fundamental. Uma valorização de carreira pensada na formação continuada, atrelada ao mérito da formação continuada, também é muito importante.”
*Com informações da repórter Nicole Fusco
Compartilhe