Cansaço, esgotamento mental e sinais de esquecimento. Desde maio, a enfermeira Karla Rocha vem sentindo os efeitos da rotina intensa de trabalho em dois hospitais de São Paulo. Além da pressão de lidar com pacientes graves da Covid-19, ela tem convivido na última semana com a incerteza do diagnóstico da doença. Com sintomas, Karla foi afastada enquanto aguarda o resultado dos testes. “Pelo fato deu ter dois empregos, o esgotamento mental é muito complicado. Eu sinto o esgotamento mental, o cansaço físico. É muito esquecimento de coisas que a gente necessita fazer, não dentro do hospital, mas fora. Porque dentro do hospital a gente está com a mente ligada, mas fora é muito esquecimento e muito cansaço”, afirma a profissional.
Um estudo realizado pela PEBMED, healthtech de conteúdo para médicos, revelou que 78% dos médicos e enfermeiros na linha de frente tiveram sinais da chamada síndrome de Burnout durante a pandemia. Além do desgaste físico e mental, esses profissionais sofrem com outras complicações mais graves, como depressão, ansiedade, insônia e estresse pós-traumático. Segundo a pesquisa, o medo da contaminação e de uma possível transmissão a amigos e familiares é um dos principais fatores que contribuem para o quadro. Para o médico e co-fundador da PEBMED, Eduardo Moura, o Brasil está vivendo uma “verdadeira epidemia de Burnout”. “Profissionais mais jovens, com menor experiência, assim como profissionais do sexo feminino parecem estar mais vulneráveis a esta síndrome. Em resume, os resultados ligam o alerta de que o colapso no sistema de saúde pode ser decorrente da falta de saúde mental dos profissionais”, explica.
Com a intenção de minimizar o impacto psicológico causado pela pandemia a profissionais da rede pública de saúde, o Instituto Horas da Vida criou o projeto “Cuidar de quem cura”. Segundo o médico e fundador da entidade, João Paulo Nogueira Ribeiro, o programa oferece amparo por meio de consultas virtuais com psicólogos. “É só você entrar no site horasdavida.org.br/cuidardequemcura”, disse. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, o continente americano tem o maior número de trabalhadores de saúde infectados pela Covid-19 em todo o mundo. Só no Brasil, mais de 250 mil médicos e enfermeiros já se contaminaram e pelo menos 220 profissionais morreram por complicações da doença.
*Com informações da repórter Letícia Santini
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