O transporte coletivo foi um dos setores mais impactados pela pandemia do coronavírus. Com a determinação da quarentena e do isolamento social, muitas pessoas passaram a trabalhar de casa. Além disso, trens, metrôs e ônibus são lugares em que não dá para seguir uma das principais recomendações das autoridades de saúde: evitar aglomeração. Em São Paulo, na cidade mais populosa do Brasil, o número de passageiros praticamente caiu pela metade neste período. Em julho ano passado, tinham sido cerca de 212 milhões de usuários, já neste ano, no mesmo, mês, foram menos de 115 milhões. A queda no número de passageiros vai impor um dos principais desafios para os novos prefeitos eleitos. É que sem a receita das passagens, a operação das linhas deve ficar economicamente inviável para a maior parte das concessionárias de ônibus, como explica o professor João Fortini Albano, da Universidade Federal do Rio Grande Sul: “Muitas cidades já fazem subsídios e talvez tenham que aumentar, o que acredito que será difícil porque os recursos são escassos. Então outras fontes de financiamento da operação do transporte coletivo devem ser buscadas.”
Outra preocupação dos novos gestores deve ser com o aumento do trânsito nos próximos meses, na avaliação do especialista em mobilidade urbana Ciro Biderman: “[O passageiro] se deslocava de transporte público, mas, agora [pela pandemia], saiu e, logo, deve acabar redundando em maior congestionamento”. A empregada doméstica Maria do Carmo Silva é um exemplo. Como tem carro, ela não deixou de trabalhar em nenhum momento e agora só usa ônibus às sexta-feiras, por causa do rodízio: “Não precisei parar [de trabalhar] porque uso o carro.”
De acordo com os especialistas, outro tema que deve estar em discussão na maior parte dos municípios do país é o uso das bicicletas. Elas podem ser uma alternativa, ecologicamente correta, tanto ao uso de carros e motos, como também ao transporte público. Para o especialista em mobilidade urbana Ciro Biderman, os novos prefeitos precisam investir mais nas conexões de ciclovias e ciclofaixas: “Eu trabalharia mais na rede, não tanto em fazer quilômetros de ciclovia, mas garantir que elas estejam conectadas, nos lugares certos.”
Já o professor João Fortini Albano, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, avalia que o foco deve nos estacionamentos de bicicletas: “O que eu observo nas cidades brasileiras é muita execução de plano cicloviários e pouca preocupação com estacionamentos das bicicletas. Deveríamos ter estacionamentos públicos e empresas deveriam ter espaços destinados a elas.”
Na reportagem desta sexta-feira, vamos falar sobre os impactos da pandemia e os desafios dos novos prefeitos na área da habitação.
*Com informações da repórter Nicole Fusco.
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