Cientistas alertam, entretanto, que análise foi feita em um banco de doadores de sangue, que não necessariamente representa toda a população da cidade. Pesquisa ainda está em prévia e não passou por revisão de outros cientistas, etapa necessária para que seja publicada em revista científica. Paciente é transportado em Manaus, uma das cidades mais atingidas pelo coronavírus
Bruno Kelly/Reuters
iCientistas brasileiros estimam que a imunidade de rebanho contra a Covid-19 foi alcançada em Manaus, que pode ter até 66% da sua população infectada pelo Sars-Cov-2. A pesquisa avaliou a presença de anticorpos em mais de 6,3 mil amostras retiradas de bancos de sangue.
Cientistas brasileiros estimaram, em um estudo ainda não publicado em revista científica, que Manaus pode ter alcançado a imunidade de rebanho contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2), com até 66% da população manauara tendo desenvolvido anticorpos para o vírus. Os cientistas alertam, entretanto, que chegaram à conclusão depois de analisar amostras de um banco de doadores de sangue, que não necessariamente representa toda a população da cidade.
A pesquisa, que ainda precisa passar por revisão de outros cientistas, é de 34 autores de várias faculdades da USP, incluindo a Faculdade de Medicina, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e da Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos, além de outras fundações no Amazonas, em São Paulo e nos EUA.
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Segundo os pesquisadores, a elevada taxa de mortalidade na região e a rápida queda no número de novos casos sugere que a população da capital do Amazonas pode ter alcançado a imunidade de rebanho – situação na qual um número suficiente de pessoas em um determinado lugar já foi infectado ou imunizado contra uma doença e consegue evitar a circulação dela. (No caso do sarampo, por exemplo, é necessário que 95% da população esteja vacinada para que o vírus causador da doença não consiga mais circular).
Quando a imunidade de rebanho acontece, mesmo aquelas pessoas que não podem ser vacinadas – no caso de doenças para as quais existe uma vacina – ficam protegidas.
A pesquisa avaliou um total de 6.316 amostras de sangue colhidas pela Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas, em Manaus, entre os dias 7 de fevereiro e 19 de agosto. O diagnóstico da infecção buscou a presença de anticorpos do tipo IgG para o coronavírus.
Ig é a sigla para imunoglobulina. A imunoglobulina é um tipo de anticorpo produzido pelo sistema imunológico contra um agente invasor. Nesse caso, de classe G – que identifica se um paciente teve infecção anterior, com pelo menos 3 semanas, e está possivelmente imunizado.
Doação de sangue em hospital do Amazonas
Girlene Medeiros / G1 AM
A prevalência de anticorpos para o Sars-Cov-2 nas amostras dos doadores de Manaus esteve abaixo de 1% entre os meses de fevereiro e março. A primeira infecção na capital do Amazonas foi registrada apenas no dia 13 de março.
Já em agosto, último mês avaliado pelo estudo, a estimativa da população que produziu anticorpos para o coronavírus está entre 44% e 66%, este último número sugerindo a imunidade coletiva.
Limitações do estudo
Os pesquisadores reconhecem uma limitação no perfil da amostra, afinal, doadores de sangue não conseguem representar toda a população. O estudo explica que há restrições de idade entre os pesquisados e que pessoas infectadas recentemente com a Covid-19 não puderam doar.
Para corrigir quaisquer diferenças, o artigo cita a comparação da incidência do vírus nas doações de sangue em São Paulo. Com isso, os pesquisadores puderam afinar as estimativas de seu modelo epidemiológico e sugerir que dois terços da população manauara já entrou em contato com o vírus.
A queda dos novos casos, no entanto, não está relacionada apenas a esta possível imunidade coletiva. Os pesquisadores reforçam que “medidas não farmacológicas”, como o distanciamento social e o uso de máscaras, podem também ter contribuído com o controle da epidemia no Amazonas.
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