Naturalmente problemático, o calendário do futebol brasileiro deve provocar ainda mais estragos na parte física dos jogadores por causa da Covid-19. Com a pausa decorrente da pandemia, restaram apenas sete meses para as conclusões de Estaduais, Copa do Brasil, Libertadores e Sul-Americana e a realização do Brasileirão. De quebra, os regionais de 2021 começarão em 28 de fevereiro, apenas quatro dias depois do término da Série A de 2020. Some a isto a necessidade de viagens longas em um País com dimensões continentais e pronto: o resultado tem tudo para ser preocupante.
Em entrevista exclusiva a Wanderley Nogueira e Flavio Prado na última edição do Seleção Jovem Pan, o preparador físico Moraci Sant’anna, que fez parte da comissão técnica da Seleção Brasileira em seis edições de Copa do Mundo, externou desconforto com a maratona de jogos à qual os atletas serão submetidos nos próximos meses. Sincero, o especialista garantiu que “veremos times se arrastando em campo” no Brasil. “Vamos passar o ano de 2021 praticamente sem férias. Porque os campeonatos vão quase que ser emendados. Vamos de abril de 2020 a dezembro de 2021. Serão 19 meses de competição sem paralisação. Normalmente, você joga uma temporada, tem um mês de férias e, só depois, joga outra. Isso não acontecerá. Vai haver uma sobrecarga muito grande”, alertou.
“Reduzir o número de datas do Campeonato Brasileiro seria uma alternativa muito boa. Sem dúvidas, se houvesse outra fórmula para diminuir esse total de datas, seria muito bem-vindo para os clubes e faria com que a competição fosse até mais competitiva. Porque o que vai acontecer é que, com essa sobrecarga de jogos, viagens e treinos, com certeza teremos um Brasileiro meio arrastado, chegando à fase mais decisiva com um desgaste muito grande. Vamos ver times se arrastando em campo no Brasil. As equipes que têm mais condição e que podem contar com uma quantidade maior de jogadores de alto nível com certeza vão levar vantagem”, acrescentou.
Ainda de acordo com Moraci, a atenção dos clubes com a parte física dos atletas terá de ser redobrada. Caso contrário, o número de lesões será consideravelmente maior. “O planejamento para esse trabalho terá que ser muito bem estudado e planejado para que você não tire condição de jogo no treino”, afirmou. “Vai ter que haver um equilíbrio muito grande entre as partes física, técnica e tática. Porque há três atenuantes: o treino, a alimentação e o descanso. Com essas três situações bem equilibradas, é possível prolongar mais o período em que o atleta atinge o seu alto nível. Mas, se uma dessas três estiver desequilibrada, os atletas com certeza estarão mais sujeitos a lesões”, finalizou.
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