Segundo Fachin, vivemos uma travessia, um chiaroscuro – conceito da arte italiana, e que o momento atual conta com ‘monstros e seres solidários, erros e acertos, riscos de colapso gravitacional do sentido de humanidade, mas indícios razoáveis de esperanças’. O ministro ressalta que a pandemia tornou ainda mais trágico os fenômenos da crise humanitária global, mas diz acreditar na capacidade de reinvenção ‘com dois dispositivos imprescindíveis’: educação e democracia. “É dessa realidade que nos circunda. A tradução inegável das assimetrias na crise: abismo entre a necessidade e acessibilidade a meios eletrônicos; surtos autoritários e saques contra o futuro; Aumento da violência contra mulheres e povos indígenas e negros; Irresponsabilidade de estados e governantes demitindo-se da obrigação de proteger a vida e o meio ambiente”, afirmou.
Por fim, a terceira vertente destacada por Fachin diz respeito ao direito, instância que segundo ele pode ser instrumento de justiça, mas cuja falta de efetividade pode ter diferentes resultados. Como exemplo, o ministro citou a seletividade punitiva, que, em sua avaliação sinaliza, a impunidade como a outra face da desigualdade. “A corrupção não tem ideologia, assim como as ditaduras. Não importa o encobrimento do verniz ideológico sobre elas”, disse. Ele ainda destacou que, ‘em matéria de alterações e desafios das relações públicas e privadas’, a crise decorrente da pandemia não pode ser uma suspensão da ordem jurídica democrática. “Crise não suspende a constituição”, afirmou. Segundo Fachin, o processo democrático é a garantia de regras que asseguram direitos e a formação da vontade dos cidadãos e que nada ‘pode ser derrogatório do que está no sistema de emergência do estado constitucional’. E é no âmbito dessa legalidade constitucional ‘somos convocados a exercitar a pedagogia da solidariedade’, diz o ministro. “E não me parece que isso seja possível sem que a educação seja compreendida como gênero de primeira necessidade, berço de uma sociedade livre, justa e solidária”.
Durante seu discurso, o ministro ainda citou a educação para a autonomia, conceito de Paulo Freire. “Educador atua a favor da liberdade, contra o autoritarismo e democrática contra toda ditadura, contra violência de toda discriminação”. Fachin destacou como a educação requer prioridade, orçamento, valorização do educador, superação das desigualdades regionais, aumento de renda, condições materiais de vida, coordenação e orientação na gestão das instituições e políticas públicas. Além disso, também citou Sonia Solto Maior, da Suprema corte americana: “Há valores que não admitem negociação, integridade, equidade e ausência de pluralidade”.
Compartilhe