O psiquiatra Antonio Egidio Nardi, professor titular da UFRJ, enfatiza: “discutir o assunto ajuda na prevenção” Muito já se falou sobre o tema ao longo de setembro, mês dedicado à prevenção do suicídio. Ainda assim, não é o bastante, é o que afirma o psiquiatra Antonio Egidio Nardi, membro da Academia Brasileira de Ciências e professor titular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro): “não passa de mito achar que falar sobre o assunto estimula o suicídio. É exatamente o oposto e deveríamos abordar a questão durante o ano inteiro, para que as pessoas se sintam motivadas a buscar assistência”.
Há duas faixas etárias que merecem atenção especial: jovens e idosos. Enquanto os primeiros são foco prioritário das campanhas, os mais velhos acabam relegados a uma posição secundária. “Entre os jovens, para cada 200 tentativas de suicídio, uma tem êxito, enquanto, entre os idosos acima dos 65 anos, em cada quatro tentativas, uma dá certo”, diz o psiquiatra. Isso mostra que atitude tão drástica pode ser antecedida de uma preparação cuidadosa, que não deve passar despercebida.
Idosos são responsáveis por 10% dos mais de 30 suicídios cometidos por dia no Brasil
Gerd Altmann para Pixabay
Para muitas famílias, é impensável imaginar que um ente querido, com uma longa trajetória, possa estar pensando em tirar a própria vida. No entanto, há sinais que ajudam a identificar que as coisas não vão bem, e aqui é fundamental derrubar outro mito: o de que a rotina de um idoso se resume a ficar quietinho no seu canto, isolado e sem estímulos. “É importante que a pessoa se exercite, tenha compromissos. A saúde não é medida apenas nos aspectos físico e psíquico, mas também social’’, enfatiza o doutor Nardi. Ele enumera uma lista de motivos que aumentam o risco de depressão: solidão, perda do cônjuge e dos amigos, diminuição da renda depois da aposentadoria, doenças mentais, alcoolismo, doenças crônicas e incapacitantes.
“Este é um ato muito complexo que, na maioria das vezes, não tem uma causa única”, avalia. “Outro mito recorrente é o de que quem tentou se matar e não conseguiu queria, na verdade, chamar atenção, e não voltará a fazê-lo. Na verdade, é o contrário. A pessoa vai aprendendo e a chance de êxito aumenta significativamente”, acrescenta. O médico alerta para sinais como a falta de interesse pelas atividades que antes davam prazer – até mesmo as mais simples, como assistir à TV. “Amigos, parentes e cuidadores devem prestar atenção em comportamentos que indiquem que a pessoa está se organizando como se fosse partir: quando se desfaz de bens com caráter afetivo, põe em ordem a vida financeira, se despede dos amigos”, ensina.
No Brasil, são cometidos mais de 30 suicídios por dia e 10% deles são de idosos. Embora as mulheres sejam responsáveis por um número maior de tentativas, os homens morrem mais. A explicação é que eles se valem de meios mais violentos. “A posse de arma de fogo aumenta enormemente o risco de suicídio”, explica o doutor Nardi. “As mulheres têm uma facilidade maior de procurar ajuda de um profissional de saúde mental no caso de sofrimento psíquico”, complementa. Há fatores de proteção, como laços familiares fortes e espiritualidade. Cartilha elaborada pela Associação Brasileira de Psiquiatria e pelo Conselho Federal de Medicina traz informações valiosas para quem quer saber mais sobre o assunto.
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