O diretor médico e obstetra Olímpio Moraes Filho, que conduziu o aborto da criança grávida de 10 anos que era estuprada pelo tio desde os 6 anos em São Mateus, no Espírito Santo, disse à Jovem Pan que os manifestantes que fecharam as entradas do hospital onde a menina realizaria o procedimento gritavam rezas e, ao mesmo tempo, xingavam a criança de “assassina”. “Gritavam com palavras de ordem, algumas rezas, desrespeitando um hospital de emergência, uma maternidade. Fizeram coral chamando a menina de assassina. Para nossa sorte, a criança não ouviu. Mais assustador ainda eram políticos, deputados que estavam ali”, contou Olímpio. Ele diz que “assustador” é a única palavra que define o que aconteceu em frente ao hospital neste domingo, 16.
“Quando eu cheguei, o pessoal já estava lá bloqueando a entrada da maternidade. Eles já sabiam, e a expectativa deles era inviabilizar a entrada da menina. E também estavam inviabilizando o serviço de emergência, mulheres em trabalho de parto, com casos graves de hipertensão. Além do mais, era uma aglomeração num período de pandemia, colocando essas mulheres grávidas em contato com manifestantes”, disse o médico. Olímpio contou que os manifestantes não deixaram ele entrar no hospital. “Eu fui proibido de entrar, não deixaram. Só teve uma coisa boa disso tudo: quando eles prestaram atenção em minha pessoa e me seguiram, eles se desgrudaram do portão, e foi nesse momento que o carro trazendo a menina entrou”. Moraes Filho, no entanto, diz não ter perdido a esperança. “Eu fico triste, mas não tenho desesperança, não. É uma minoria, muito barulhenta, mas é uma minoria. Eu acredito que o ser humano não estava ali representado. Aquilo é fruto da própria desinformação.”
Relembre
O caso da criança se tornou público após ela dar entrada no Hospital Roberto Silvares, em São Mateus, no Espírito Santo, se sentindo mal. Enfermeiros perceberam que a garota estava com a barriga estufada, pediram exames e detectaram que ela estava grávida de 3 meses. Aos médicos, a menina contou que seu tio a estuprava desde os 6 anos. Ela disse que não havia contado aos familiares porque tinha medo e era ameaçada pelo estuprador. O juiz Antonio Moreira Fernandes, da Vara da Infância e da Juventude de São Mateus, município onde a menina mora, deu aval ao aborto, mas a jovem teve de ser levada de helicóptero para Recife (PE) porque, no Espírito Santo, o hospital autorizado a fazer o procedimento teria se recusado a efetuá-lo.
A militante bolsonarista Sara Giromini, líder do movimento conhecido como ‘300 do Brasil’, disse em seu perfil no Twitter que o médico Olímpio Moraes Filho é um “aborteiro”. Ela também fez uma postagem divulgando o nome da criança e o hospital onde ela estava. O texto foi apagado. Sara foi já foi presa pela Polícia Federal, usa tornozeleira eletrônica e é suspeita de organizar e captar recursos financeiros para ações contra a ordem política e social.
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