Fogo no Pantanal já destruiu 85% de parque onde está o maior refúgio de onças-pintadas do mundo

Os incêndios que estão ocorrendo no Pantanal já destruíram 85% da área total do Parque Estadual Encontro das Águas, que abriga o maior refúgio de onças-pintadas no mundo. Até o último domingo, 13, segundo o Instituto Centro Vida (ICV), o fogo consumiu mais de 92 mil hectares do parque, que tem 108 mil hectares. O Ministério do Desenvolvimento Regional anunciou nesta quarta-feira, 16, que vai financiar com R$ 10,1 milhões o plano de trabalho do governo do Mato Grosso para combate aos incêndios. A liberação dos recursos foi assinada no início da tarde de hoje em Cuiabá, em reunião entre o ministro Rogério Marinho e o governador do estado, Mauro Mendes.

Terras Indígenas

O fogo também chegou a regiões onde vivem indígenas no Mato Grosso. Cerca de 80 famílias do povo guató estão hoje ameaçadas pelo fogo que avança sobre o Pantanal e sobre a Terra Indígena Baía dos Guató, homologada em 2018 e uma das três Terras Indígenas (TIs) atingidas pelos incêndios, que já consumiram mais de 9% da área total do bioma no estado de Mato Grosso. “A floresta, os rios e os animais são sagrados. É dela que tiramos nosso sustento e remédios de muitas enfermidades. Com esse fogo devastando tudo, muitas das coisas não se recupera mais”, conta Alessandra Guató, uma das moradoras do território.

As 35 famílias do povo bororo da Terra Indígena Perigara tiveram 8,1 mil hectares consumidos pelos incêndios, mais de 75% de seu território – número que a posicionou como a terra mais impactada pelas queimadas neste ano em todo o estado. A área equivale a mais de oito mil campos de futebol em extensão. Já a Terra Indígena Tereza Cristina perdeu 12% de área para o fogo, que atingiu 3,3 mil hectares. As Terras Indígenas Perigara e Baía dos Guatós estão localizadas no município de Barão do Melgaço, que figura como segundo município mais atingido pelo fogo no estado, com 123,6 mil hectares incendiados, atrás apenas de Poconé, líder em queimadas em todo o estado com 312 mil hectares impactados.

Os dados são da nota técnica “Caracterização das áreas atingidas por incêndios em Mato Grosso” do Instituto Centro de Vida (ICV) que analisou dados disponibilizados pela Global Fire Emissions Database da NASA e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O estudo combina focos de calor e interpretação de imagens de satélite para estimar as áreas atingidas pelos incêndios no período de janeiro ao dia 17 de agosto.

Os dados mostram que, de janeiro a agosto, foram detectados 148 focos de calor em terras indígenas no Pantanal. O mês de agosto, em que a alta incidência de ventos na região aumenta o risco da propagação dos incêndios, concentrou 81% das ocorrências. Os números representam um aumento significativo para as Terras Indígenas no bioma. Em 2019, a categoria somou cinco ocorrências no mesmo período e, em 2018, não contabilizou nenhuma. Nas três regiões impactadas, a Baía dos Guatós lidera a lista com 89 focos, seguida da TI Perigara com 48, e da TI Tereza Cristina com 11. “Elas não têm gente para apagar o fogo e nem equipamento. É um grande risco porque as casas são de palha e podem pegar fogo muito rápido. É grave porque os indígenas tão vendo o fogo se aproximando cada vez mais”, alertou Soilo Urupe Chue, assessor da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (FEPOIMT).

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