Jogadores da NBA são peças importantes do movimento antirracismo nos EUA

Os protestos antirracistas chegaram à NBA muito antes do último domingo, quando Jacob Blake, um homem negro de 29 anos, foi alvejado por policiais brancos na cidade de Kenosha, Wisconsin, nos Estados Unidos. Durante os jogos realizados na bolha organizada pela liga norte-americana de basquete em Orlando, na Flórida, era possível ler –  em uniformes, pares de tênis e quadras – mensagens em favor da campanha Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) ou citando casos que abalaram o país recentemente e reacenderam a luta pela igualdade racial, como o de George Floyd, que morreu sufocado por um policial branco durante uma abordagem, e de Breonna Taylor, vítima de tiros disparados por oficiais que entraram à paisana em seu apartamento enquanto cumpriam um mandado de busca sem aviso prévio. Blake estava no carro com seus três filhos quando foi abordado. Os policiais atiraram nas suas costas. Ele está internado em estado grave, e corre o risco de ficar paraplégico.

O novo episódio levou os norte-americanos mais uma vez às ruas, e fez com que os envolvidos na NBA também elevassem o tom. Em meio aos jogos decisivos da temporada, chamados playoffs, os atletas sinalizavam o desejo de boicotar a rodada quando o caso veio a público, no início da semana. Fred Vanvleet, armador do Toronto Raptors, chegou a dizer que “ajoelhar não estava mais adiantando” e que algo maior precisaria ser feito pelo movimento. A atitude veio nesta quarta-feira, com o início de uma espécie de greve – uma iniciativa inédita até então na liga. Os jogadores do Milwaukee Bucks decidiram não entrar em quadra para a disputa do Jogo 5 contra o Orlando Magic. Pouco tempo depois, a organização confirmou o cancelamento das outras duas partidas da noite, entre Houston Rockets x Oklahoma City Thunder e Los Angeles Lakers x Portland Trail Blazers.

Ativista da causa, LeBron James manifestou sua indignação pelas redes sociais. “Exigimos mudanças. Estou farto disso”. Técnico dos Bucks, Mike Budenholzer também lamentou o episódio. Segundo a BBC, antes da confirmação do adiamento, ele afirmou que seu elenco foi profundamente afetado pelo episódio. “Eu, meus jogadores e nossa organização estamos muito perturbados com o que aconteceu em Kenosha. É um grande desafio ter apreço e vontade de mudança, querer algo diferente em Kenosha, Milwaukee e Wisconsin, e depois jogar”. Os proprietários da franquia, Marc Lasry, Wes Edens e Jamie Dinan, também se manifestaram em um comunicado oficial. “Apoiamos totalmente os nossos jogadores e a decisão que tomaram. (…) A única forma de brigar pela mudança é iluminar as injustiças raciais que estão acontecendo à nossa frente. Nossos jogadores fizeram isso. Continuaremos ao lado deles, exigindo responsabilidade e mudança”.

Em junho, pouco tempo após a morte de George Floyd, os jogadores da NBA participaram das manifestações antirracistas nos Estados Unidos. Alguns deles revelaram ter passado por situações de violência policial, como Bradley Beal, dos Wizards. Em 2018, ele foi parado em uma blitz por ser considerado suspeito ao dirigir um carro de luxo.

De acordo com uma pesquisa feita pelo ativista Richard Lapchink, em 2015, 74,4% dos jogadores da NBA eram negros, 23,3% brancos, 1,8% de origem latina e 0,2%, asiáticos. A liga tem a maior porcentagem de jogadores negros entre todos os esportes praticados profissionalmente nos Estados Unidos e no Canadá. A ascensão social adquirida através do esporte não exime atletas de situações como a relatada por Beal – ou piores. No tocante relato “Seu dinheiro não pode me silenciar”, publicado pelo site Players Tribune, Sterling Brown, dos Bucks, revelou que foi agredido por policiais no estacionamento de uma farmácia após estacionar seu carro de forma irregular.

A cidade então ofereceu US$ 400 mil para que o caso não viesse a público. “Rejeitei a oferta porque tenho a responsabilidade de ser uma voz e ajudar a mudar a narrativa de meu povo. Para fazer isso, tenho que contar minha história, portanto, diálogos e conversas sobre a brutalidade policial podem ajudar a influenciar e mudar um sistema corrupto. É mais profundo do que apenas estacionar ilegalmente”, escreveu. Os policiais ajoelharam sobre o pescoço do jogador e pisaram nos seus tornozelos, entre outras agressões.

O confinamento da bolha também foi alvo de discordância. Ainda em junho, o armador Kyrie Irving, do Brooklyn Nets, questionou a retomada da temporada. Para ele, a volta das partidas ofuscaria o movimento antirracista norte-americano. De acordo com o Yahoo!Sports, o atleta teria dito que estaria disposto a “abrir mão de tudo pela reforma social”.

A WNBA, liga feminina, também adiou os jogos desta quarta entre Washington Mystics x Atlanta Dream, Los Angeles Sparks x Minnesota Lynx e Connecticut Sun x Phoenix Mercury. Com um posicionamento firme diante da causa e o respaldo da liga e dos clubes, os jogadores devem se reunir para decidir se são a favor ou não continuidade da temporada. Mas eles querem mais. À ESPN americana, o vice-governador de Wisconsin, Mandela Barnes, jogadores estavam “muito interessados” em traçar um plano de ação que fosse além do cancelamento da rodada. “Eles queriam algo tangível que pudessem fazer a curto e longo prazo, que a paralisação fosse a etapa 1”. O político orientou que o grupo procurasse ações “em todos os níveis do governo”.

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