Grupos de manifestantes se reuniram em várias cidades do Brasil neste domingo, 6, para expressar apoio à Lava Jato após a saída do coordenador da força-tarefa da operação, o procurador Deltan Dallagnol, que ocorreu na última terça-feira, 1º de setembro. A carreata foi organizada pelo movimento Vem Pra Rua e tem como principal alvo o Procurador Geral da República (PGR), Augusto Aras, que ainda não determinou a continuidade dos trabalhos da força-tarefa. Apoiadores apontam que a Lava Jato está sofrendo um desmonte, liderado por Aras.
A maior das manifestações ocorreu em São Paulo. Por volta das 9 horas da manhã, os apoiadores se concentraram na Praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, e puderam acompanhar a manifestação apenas de dentro do carro, para que o distanciamento fosse mantido, por causa da pandemia do novo coronavírus. A organização da carreata confirmou que mais de 200 automóveis estavam participando do ato por volta do meio-dia. Panfletos com a inscrição “Aras, inimigo da Lava Jato” foram distribuídos durante o ato na capital paulista. “Em um País que se divide entre apoiar a rachadinha ou o Petrolão, nós escolhemos ficar do lado do Brasil. Somos uma terceira via”, afirmou um dos manifestantes no carro de som do evento em São Paulo. Em Brasília, a carreata terminou em frente à Procuradoria-Geral da República, com um buzinaço e pedidos pela prorrogação da operação.
Os protestos foram convocados após Dallagnol anunciar sua saída da Lava Jato. Ele alegou motivos pessoais e divulgou um vídeo em que falava sobre problemas de desenvolvimento que a filha, de 1 ano e 10 meses, vem enfrentando. “Foi uma imensa honra fazer parte desse time maravilhoso que serviu tanto à sociedade. Isso não é uma despedida e não vou deixar de sonhar com um país menos corrupto e mais justo. Vou priorizar a minha família, mas continuarei lutando como procurador e como cidadão”, disse Dallagnol. Quem assumiu o posto deixado por ele é o procurador Alessandro Oliveira.
Deltan vinha sofrendo desgaste em meio ao embate entre Augusto Aras e o grupo de procuradores de Curitiba, criado em 2014. Desde maio, após a saída de Sérgio Moro, o ex-juiz da Lava Jato, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Aras tenta acessar o banco de dados da operação, que contém informações sigilosas sobre os investigados. O PGR foi ao Supremo Tribunal Federal (STF), após as três forças-tarefa – Curitiba, Rio e São Paulo – resistirem a abrir dados indiscriminadamente. As investidas foram freadas temporariamente pelo relator da Lava Jato no Supremo, ministro Edson Fachin.
Até o fim desta semana, Aras deve definir se prorroga a designação dos 13 membros da Lava Jato, quais permanecerão e por quanto tempo atuarão ainda com exclusividade para os processos do caso – mais de uma centena. Em sete anos, são mais de R$ 4 bilhões recuperados nas mais de 100 ações penais e 30 processos cíveis, contra 532 réus, 630 acordos de cooperação internacional, mais de 200 acordos de delação premiada. Há processos ainda abertos e cerca de 400 outras investigações, que podem gerar denúncias. Em pedido de prorrogação por mais um ano da força-tarefa, enviado ao PGR no último mês, os procuradores de Curitiba afirmam que, “sem dúvidas, falta muito a analisar e a fazer, dada a dimensão e complexidade dos casos e do volume de dados obtidos”.
Além da saída de Deltan, também na semana passada, sete procuradores que integram a força-tarefa da Lava Jato em São Paulo assinaram ofício a Aras solicitando desligamento dos trabalhos na operação até o final deste mês. Os procuradores argumentam “incompatibilidades insolúveis com a atuação da procuradora natural dos feitos da referida força-tarefa, Viviane de Oliveira Martinez”. Martinez acusa a Lava Jato em São Paulo de concentrar a distribuição de processos sem passar por livre distribuição.
Veja imagens da carreata em apoio à Lava Jato:
*Com Estadão Conteúdo
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