Pasta afirma que ao recomendar o consumo mínimo de ultraprocessados, o Guia ‘impede ampliar a autonomia das escolhas alimentares’. Pesquisadores da USP rebatem as críticas. O aumento no consumo de industrializados ultraprocessados, como salgadinhos, aumenta a obesidade
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Uma nota técnica do Ministério da Agricultura enviada ao Ministério da Saúde faz críticas e pede a revisão do “Guia Alimentar para a População Brasileira”, principalmente no que se refere à redução de alimentos ultraprocessados.
O posicionamento do governo foi duramente criticado por especialistas, que lembram quem órgãos internacionais e outros países adotam os padrões do guia brasileiro. Procurado pelo G1, o Ministério da Agricultura não se posicionou sobre o tema.
O Guia Alimentar oferece informações sobre alimentação e saúde com base em uma classificação que divide os alimentos de acordo com o nível de processamento em sua produção, além de alertar sobre doenças como obesidade e diabetes (veja mais detalhes abaixo).
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Na nota técnica, o Ministério da Agricultura avalia a classificação – chamada de NOVA – como “confusa, incoerente, que impede ampliar a autonomia das escolhas alimentares”.
“A recomendação mais forte nesse momento é a imediata retirada das menções a classificação NOVA no atual guia alimentar e das menções equivocadas, preconceituosas e pseudocientíficas sobre os produtos de origem animal”, diz trecho do documento da pasta.
A nota ainda pede uma revisão de todo o Guia com a participação de “setores especializados na ciência dos alimentos”, citando como exemplo engenheiros de alimentos
O documento é assinado por Luís Eduardo Rangel e Eduardo Mazzoleni, diretor e coordenador do departamento de Análise Econômica e Políticas Públicas da Secretaria de Política Agrícola do ministério.
Reprodução de trecho do Guia Alimentar
Ministério da Saúde
Classificação NOVA
Nesta quinta-feira (17), o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP) publicou posicionamento contra à nota técnica do Ministério da Agricultura. O órgão científico é criador da classificação NOVA e ajudou na elaboração do Guia Alimentar.
“Tais críticas se resumem a afirmações não amparadas por qualquer evidência científica”, afirma a nota do Nupens.
Os pesquisadores da USP também rebatem a afirmação da nota técnica do Ministério da Agricultura de que o Guia Alimentar brasileiro seria “um dos piores do mundo”.
“Assim não pensam organismos técnicos das Nações Unidas, como a FAO, a OMS e o UNICEF, que consideram o Guia brasileiro um exemplo a ser seguido. Assim não pensam os Ministérios da Saúde do Canadá, da França, do Uruguai, do Peru e do Equador, que têm seus guias alimentares e suas políticas de alimentação e nutrição inspirados no Brasil”, afirmou o Nupens.
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Em 2016, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) elogiou o Guia brasileiro e o classificou como um dos quatro mais completos do mundo por considerar tanto aspectos de saúde como do meio ambiente, equiparando-o com os documentos da Suécia, da Alemanha e do Qatar.
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O Guia Alimentar: ‘descasque mais’
Lançado em novembro de 2014 pelo Ministério da Saúde, o Guia Alimentar tem como máxima o consumo mínimo de alimentos ultraprocessados.
“Prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados. A regra de ouro é: descasque mais e desembale menos”, informa o texto do Guia Alimentar de 2014.
Alimentos ultraprocessados são aqueles fabricados pela indústria com a adição de gordura, sal, açúcar, conservantes e demais substâncias que alteram o alimento in natura. São exemplos:
Refrigerante
Carne processada, como salsichas e hambúrgueres
Biscoitos industrializados
Salgadinhos
Macarrão instantâneo
Alimentos in natura são aqueles vindos diretamente de plantas ou de animais, que não sofreram qualquer alteração após deixarem a natureza. São exemplos:
Verduras e legumes
Grãos
Frutas
Ovos
Leite
A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a recomendar que os países adotassem Guias de alimentação como forma de prevenis doenças como obesidade e diabetes a partir da década de 1980.
Tanto a FAO como a OMS recomendam uma dieta rica em cereais integrais, legumes, frutas e vegetais, assim como o consumo reduzido de carne e de alimentos com alto teor de gordura e de açúcar.
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