Michael Ryan e Maria van Kerkhove alertaram para efeitos a longo prazo da contaminação pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) e disseram que reinfecção é possível, mas ainda precisa ser estudada a nível populacional. Michael Ryan, diretor-executivo do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS)
Christopher Black/OMS
O diretor-executivo do programa de emergências da Organização Mundial de Saúde (OMS), Michael Ryan, e a líder técnica para Covid-19 da entidade, Maria van Kerkhove, alertaram nesta quarta-feira (16) para os efeitos a longo prazo da contaminação pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2).
“Nem todo mundo tem uma recuperação completa e imediata deste vírus”, lembrou Ryan, em uma sessão de perguntas e respostas ao vivo nas redes sociais.
“Essa é uma doença inflamatória além de viral. O vírus invade as células e causa uma resposta inflamatória; o corpo reage contra isso. E o que estamos vendo são respostas inflamatórias no sistema cardiovascular, neurológico [veja vídeo mais abaixo], no corpo todo. Nós simplesmente não sabemos quais são os impactos a longo prazo disso”, reforçou.
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A líder técnica para Covid-19, Maria van Kerkhove, reforçou a mensagem.
“Não sabemos muita coisa sobre os efeitos a longo prazo da infecção por Covid-19”, lembrou van Kerkhove.
“Estamos aprendendo que pessoas jovens, até pessoas com casos leves, estão tendo efeitos de longo prazo. Há muita pesquisa nessa área, mas não conhecemos os efeitos a longo prazo totalmente. E isso é importante, porque mesmo uma ‘infecção leve’ pode ter esses efeitos”, afirmou.
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Possibilidade de reinfecção
Os líderes da OMS discutiram as chances de reinfecção – que, disseram, ainda precisa ser estudada a nível populacional.
“Tivemos casos, então nos diz que é possível, mas não sabemos o quanto ocorre a nível de população. Estamos olhando para isso, mas pessoas não devem ficar assustadas”, afirmou van Kerkhove. “Para a maioria das pessoas, elas desenvolvem uma resposta imune, e ela parece durar pelo acompanhamento que vimos”.
Maria van Kerkhove, líder técnica do programa de emergências da OMS
Christopher Black/OMS
“Tivemos 28 de milhões de casos confirmados”, lembrou Ryan. “Não estamos vendo uma falha no sistema imune para muitas pessoas. Não estamos vendo filas de pessoas que estiveram no hospital voltando para o hospital 3, 4 meses depois”, disse o diretor. Ele reforçou que é possível que uma primeira infecção possa, por exemplo, proteger contra um quadro mais agravado na segunda vez em que a doença aparece.
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No Brasil, a Universidade de São Paulo (USP) investiga 28 pacientes que podem ter sido reinfectados pela Covid-19. No início de agosto, a universidade apontou uma nova contaminação em uma enfermeira em Ribeirão Preto.
O primeiro caso de reinfecção do mundo foi confirmado no fim do mês passado, em Hong Kong.
Inverno no Norte
Crianças chegam para o primeiro dia de aulas desde o início da pandemia de Covid-19 em Scarborough, na província de Ontário, no Canadá, nesta terça-feira (15).
Carlos Osorio/Reuters
Os especialistas lembraram que, com a aproximação do inverno no Hemisfério Norte, os países dessa parte do globo correm o risco de ter, ao mesmo tempo, uma ressurgência do coronavírus, em países que conseguiram controlá-lo, e uma temporada de gripe, causada pelos vírus da família Influenza.
“Estamos perdendo 5 mil pessoas por dia por causa de Covid no planeta, mortes por casos confirmados de Covid”, lembrou Ryan. “Sem contar os que nunca foram testados, nem aqueles que morreram por todas as outras causas porque os serviços de saúde foram interrompidos. Este vírus ainda está cobrando um preço muito alto”, alertou.
Países como Espanha, França, e os do leste europeu, como Geórgia, Montenegro e Ucrânia, além de alguns estados americanos, mostram “tendências preocupantes” de hospitalizações e de ocupações de UTIs, disse van Kerkhove. Ela não detalhou quais estados dos EUA tinham as situações mais críticas.
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