Algumas cifras no mundo dos negócios muitas vezes provocam um tipo de vertigem. Por exemplo: imagine a sensação de perder US$ 44 bilhões em uma semana? Algo como R$ 230 bilhões. Aconteceu na semana passada com os dez homens mais ricos do setor de tecnologia nos Estados Unidos. Com a queda nos preços das ações de suas empresas, a fortuna de bilionários como Jeff Bezos, criador e CEO da Amazon, e Elon Musk, da Tesla, recuou em um patamar que, mesmo para quem acompanha tais números, não deixa de ser assombroso, considerando que estamos falando de apenas dez pessoas. Como comparação, até agora, os gastos com o governo brasileiro com o combate à pandemia foram de três vezes isso, R$ 600 bilhões. Com o valor da queda na fortuna dos bilionários daria para comprar o Bradesco, que tem valor de mercado de R$ 187 bilhões. Ou a Ambev, que vale R$ 198 bilhões. Mas mesmo depois de perder US$ 9 bilhões com a queda das ações da Amazon, se Jeff Bezos quisesse, poderia pagar sozinho todo o gasto com a pandemia e ainda comprar o Bradesco e a Ambev. Bezos possui algo em torno de R$ 1 trilhão, segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg. Isso que na separação de Mackenzie Scott, sua ex-mulher, ficou sem outros US$ 68 bilhões.
Mais do que apenas impressionar, estas cifras fazem refletir sobre o valor efêmero do dinheiro nos dias de hoje. Fortunas que vinte anos atrás colocariam a pessoa entre as mais ricas do mundo hoje desaparecem quase do nada sem que seus ex-donos empobreçam. Pelo contrário, no saldo do ano, as 500 pessoas mais ricas do mundo ainda estão US$ 830 bilhões no positivo. A valorização das ações de tecnologia já havia criado dez anos atrás o fenômeno em que empresas são mais ricas do que a grande maioria dos países. O mesmo acontece agora com seus criadores. E não há sinal de desaceleração. Um dia comum de alta em geral adiciona US$ 4 bilhões ao patrimônio de Bezos, Musk ou Mark Zuckerberg, do Facebook. O novo normal às vezes não parece ter ligação com a realidade. Mas tem. E nele pessoas já são mais ricas do que países.
*Samy Dana é economista e comentarista da Jovem Pan.
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