O que é um pirocumulonimbus, a perigosa nuvem ‘artificial’ de tempestade criada por queimadas


Comunicado da Nasa aponta que megaincêndios na Califórnia estariam associados aos maiores pirocumulonimbus já registrados na história dos EUA. Nuvem ‘artificial’ em decorrência dos incêndios foi captada por satélites da Nasa
Nasa
Como acontece todos os anos, partes da Califórnia se transformaram recentemente em um inferno em chamas: centenas de pessoas precisaram ser deslocadas, o ar foi tomado por partículas de poluição, propriedades foram destruídas, florestas e cidades inteiras viraram cinzas.
Em 2020, no entanto, os incêndios e a fumaça não apenas escureceram o céu de grande parte do Estado, mas também geraram fenômenos meteorológicos incomuns: de tornados de fogo a nuvens de tempestade em decorrência da fumaça.
Uma delas foi gravada na semana passada e, segundo a Nasa, pode ser a maior da história dos Estados Unidos.
Trata-se de uma gigantesca pirocumulonimbus, uma nuvem “artificial” gerada pela fumaça que se espalhou por 15 quilômetros sobre o condado de Fresno e podia ser vista do espaço, por meio satélites da agência espacial norte-americana, mas que também foi observada por passageiros de aviões que cruzavam a área.
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De acordo com a agência espacial americana, ela chegou a bloquear a visibilidade de seus satélites sobre partes da Califórnia no dia 6 de setembro, tornando impossível o acompanhamento da evolução dos incêndios desde o espaço.
O que são pirocumulonimbus?
Ainda segundo a Nasa, esse tipo de nuvem, também chamada de cumulonimbus flammagenitus, é produzido “artificialmente” como resultado de uma fonte natural de calor, como um incêndio florestal ou um vulcão.
“O ar quente que sai do fogo pode levar vapor d’água para a atmosfera e gerar nuvens. (…) Nesse caso, foi criado um cumulonimbo ou nuvem de tempestade”, aponta o texto.
A agência acrescenta que este tipo de formação costuma ser a mais perigosa, pois, ao gerar uma nuvem de tempestade, os raios e os ventos que ela provoca podem fazer com que o fogo se espalhe ou ainda gerar novos focos de incêndios.
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Medições já feitas e outras que ainda estão em análise sugerem que esta pode ser a maior pirocumulonimbus já registrado no país.
“Os valores do índice de aerossol criado pela nuvem indicam que este é um dos maiores eventos, senão o maior, visto nos Estados Unidos”, disse Colin Seftor, cientista atmosférico do Goddard Space Flight Center, no texto da Nasa.
Qual é a situação dos incêndios nos EUA?
De acordo com o National Interagency Fire Center, atualmente há mais de 100 incêndios em pelo menos 12 Estados dos EUA.
A Califórnia, o estado de Washington e Oregon, todos na costa oeste dos Estados Unidos, foram os mais afetados, registrando pelo menos 12 mortes, milhares de desabrigados e cidades inteiras destruídas.
O governador do Oregon disse que os incêndios podem causar “a maior perda de vidas e propriedades” da história do Estado.
Enquanto isso, em Washington, autoridades indicaram que o incêndio é um dos piores já registrados em 50 anos.
A Califórnia, que vive uma estiagem prolongada junto a uma onda de calor, é o Estado que mais registra incêndios: mais de 25, incluindo três dos cinco maiores de sua história.
Segundo dados oficiais, mais de 3,1 milhões de hectares foram queimados nos últimos dias, um recorde.
“Essa área é do tamanho de mais de dez vezes a cidade de Nova York. É uma loucura. Ainda não entramos na temporada de incêndios de outubro e novembro e já quebramos o recorde de todos os tempos”, disse o bombeiro-chefe Richard Cordova à emissora CNN.
O que há por trás desses incêndios?
O grande número de incêndios na região oeste foi causado por uma série de razões, desde linhas de transmissão derrubadas até uma festa na qual fogos de artifício foram lançados.
No entanto, especialistas notam que, nos últimos anos, a área passou por eventos climáticos extremos.
De acordo com um estudo da Universidade da Califórnia em San Diego, esta é em grande parte uma tendência causada por efeitos maiores associados às mudanças climáticas.
Embora as mudanças climáticas em si não sejam a causa direta, elas ajudam a estabelecer as condições para incêndios florestais em larga escala, dizem os cientistas.
O oeste dos EUA experimentou recentemente sérias ondas de calor, incluindo um dia que levou ao que poderia ser a temperatura mais alta já registrada de forma confiável no planeta, 54,4°C, também na Califórnia.
Na semana passada, outra onda de calor no sul daquele estado também levou a temperaturas recordes e apagões.
Essas condições quentes e secas tornaram a região mais sujeita a incêndios florestais.
Temperaturas recorde e até neve em outros Estados, como no Colorado, também geraram ventos fortes de oeste.
As correntes de ar seco conhecidas como ventos de Santa Ana ou do Diablo (dependendo se afetam o norte ou o sul da Califórnia) também tendem a contribuir para a propagação dos incêndios durante os meses de outono. E neste ano elas começaram mais cedo.
De acordo com o jornal Los Angeles Times, além das mudanças climáticas, outros fatores, como mais pessoas vivendo em áreas sujeitas a incêndios florestais e crescimento excessivo de ervas daninhas em algumas áreas, também contribuíram com a tragédia.

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