Postura mais ideológica e menos diplomática do Itamaraty incomoda setores do Senado, diz Trad sobre visita de Pompeo

A visita de Mike Pompeo a Roraima pode ser vista como uma postura mais ideológica e menos diplomática do Itamaraty. O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal, senador Nelsinho Trad (PSD), avalia que a posição incomoda “muitos setores do Senado” e aumenta as preocupações sobre as relações diplomáticas do país. A discussão sobre o assunto surge após o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, visitar a Operação Acolhida em Roraima acompanhado do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. O ocorrido foi alvo de intensas críticas de autoridades que consideram o encontro “estranho”, avalia Trad. Para ele, naturalmente, autoridades de alta patente como Pompeo visitam Brasília, que é o centro do poder no país. “Foi tudo muito estranho, a começar da visita de um secretário da importância de Pompeo ao Brasil indo somente a Roraima. Nada contra Roraima, mas se eles foram lá, como realmente aconteceu, queremos saber o motivo. É devido a fronteira com a Venezuela? Por que foram lá e não vieram discutir essa questão na capital federal? Então são situações que precisam de esclarecimentos para poder passar essa história a limpo”, afirma.

Mike Pompeo, que esteve ao Brasil na semana passada, visitou as instalações do programa de acolhimento a refugiados venezuelanos, o que gerou uma onda de críticas de ex-ministros e parlamentares. O desconforto gerado resultou no convite para que o ministro Ernesto Araújo preste esclarecimentos ao Senado sobre a visita. A presença do chanceler na Comissão de Relações Exteriores está marcada para acontecer na quinta-feira, 24. E, segundo Nelsinho Trad, visa trazer a tona esclarecimentos.  “Os senadores irão estar presentes, os questionamentos virão e os desdobramentos vão depender do desempenho do chancelar na Comissão de relações exteriores. A gente observa que o Itamaraty está tendo, em determinadas situações, uma posição mais ideológica e menos diplomática, o que incomoda muitos setores no Senado. Eu já tive aos colegas senadores que a tendência tanto do ministro Ernesto quanto do governo é essa e eles não vão mudar. Agora, muitas vezes é necessário que demarque o território e faça uma linha para que não possa ser ultrapassada para o bem da diplomacia brasileira“, avalia. A visita de Pompeo acontece, justamente, em um período que antecede as eleições americanas, o que elevou o tom das críticas ao ocorrido e preocupa o senador. “Vamos dizer que nos EUA o Republicano [partido de Donald Trump] perde e os Democratas ganham? Como vai ficar [a relação com o Brasil]? É uma interrogação que gente precisa ter e temos que procurar tocar as questões que interessem ao Brasil a fim de quem ganhar as relações diplomáticas podem ser fomentadas.”

Os críticos a visita de Pompeo a Operação Acolhida com o ministro Ernesto Araújo afirmam que o ocorrido é  um desrespeito à soberania brasileira, como classificou a Comissão de Relações Exteriores do Senado. Outros senadores também se posicionaram contra o ocorrido. “Na hora da crise, do pico da migração o Estados Unidos não estavam presente. Agora, que resolvemos a questão da pandemia e da migração, que as fronteiras estão fechadas e não está entrando quase ninguém chega, o Pompeo lá, oferece uma migalha de 30 mil dólares”, afirma Telmário Mota (PROS). A Operação Acolhida, administrada pelo Exército Nacional visa fornecer suporte para documentação dos imigrantes, além de também atuar na interiorização dos venezuelano e assistência emergencial aos refugiados.

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