Sinônimo de rapidez e economia, o prato feito está pesando mais no bolso do brasileiro por causa da inflação. Pressionada pela disparada de itens da cesta básica nas últimas semanas, a tradicional mistura de arroz, feijão, salada e carne aumentou 20% em agosto de 2020, na comparação o mesmo mês do ano passado, aponta pesquisa feita pela consultoria GfK. A alta é impulsionada principalmente pelo encarecimento do arroz, feijão e proteína animal nas gôndolas dos supermercados, reflexo do aumento da venda desses produtos no mercado internacional, o crescimento da demanda interna pressionada pelo auxílio emergencial e a alta do dólar. A inflação sobre alimentos e bebidas acumulou alta de 0,78% em agosto, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgados nesta quarta-feira, 9, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Arroz, leite longa vida e óleo de soja acumulam alta de aproximadamente 20% desde o início do ano, enquanto carne e frango somam crescimento de quase 7%.
O estudo da GfK foi feito em 305 estabelecimentos comerciais de todo o Brasil, considerando a variação quinzenal de 35 itens que compõem a cesta básica. “Percebemos que desde o início da pandemia o preço desses itens está subindo de uma forma consistente. Essa alta pode ser explicada principalmente pela alta do dólar, que torna o mercado internacional mais competitivo do que o doméstico. Também é preciso levar em consideração que a China está criando um estoque desses itens, o que deixa o mercado interno ainda mais desbalanceado em comparação com o internacional”, explica Fernando Baialuna, diretor da GfK.
O levantamento da consultoria mostra que o preço do prato feito saltou de R$ 6,87 em janeiro para R$ 7,13 em agosto, alta de 3,8%. Em comparação, no mesmo período de 2019, a redução foi de 3,1%, passando de R$ 6,13 no primeiro mês do ano para R$ 5,94 em agosto. O feijão foi o item com maior variação, aumentando 52% entre agosto de 2019 com o deste ano, seguida pelo arroz, com alta de 36%. Além do câmbio e da balança comercial, o auxílio emergencial também teve impacto direto no encarecimento dos produtos. O benefício de R$ 600 aumentou o poder de consumo das famílias mais vulneráveis, criando o movimento de maior demanda e encarecimento da oferta. “Não por acaso, as regiões norte, nordeste e centro-oeste foram as com maior variação no valor do prato feito, justamente as mesmas regiões que mais tiveram beneficiados pelo auxílio-emergencial”, diz Baialuna.
Para Walter Franco, professor de economia no Ibmec de São Paulo, a alta de 0,24% no IPCA em agosto — a maior para o mês desde 2016 —, é reflexo de um pico de consumo pontual e não deve interferir na previsão do governo em manter a inflação em 4%, com 1,5% para mais ou para menos. “Não é nada de grave, levando em consideração que a alta foi observada em apenas alguns itens, e não vem em uma escalada constante e generalizada”, afirma. A previsão do economista é que a situação se normalize nos próximos meses. Já para o diretor da GfK, a alta pode permanecer até o fim do ano, caso a demanda internacional e o dólar permaneçam em alta. “Nós buscamos orientar as associações de mercados e os consumidores para buscarem alternativas. Com a carne bovina em alta, o consumidor deve buscar uma substituição mais barata, enquanto as entidades estão conversando com o governo para encontrar medidas que reduzam os preços”, afirma.
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