O procurador da República Eduardo El Hage disse que o afastamento do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), não teve motivação política. “A ação de hoje não tem qualquer motivação política, a peça está muito robusta. Não tem qualquer viés político, como tenta desviar o governador“, afirmou em entrevista coletiva nesta sexta-feira (28). Mais cedo, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Benedito Gonçalves determinou o afastamento de Witzel do cargo por 180 por denúncias de corrupção durante a pandemia de Covid-19.
El Hage afirmou que a investigação encontrou e-mails enviados por Witzel com contratos entre o escritório da primeira-dama, Helena Witzel, e empresas citadas em delações premiadas. O procurador explicou que o pedido de afastamento do governador era a única solução que poderia ser adotada para dar prosseguimento às investigações. “Para nós, cidadãos fluminenses, é uma tristeza, não é motivo de orgulho o afastamento do terceiro governador em sequência, mas não havia outra medida se não a adotada hoje”, lamentou, lembrando que os ex-governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão também foram implicados em denúncias de corrupção. “É algo inadmissível, por isso o MPF chegou a requerer a prisão preventiva.”
Mais cedo, também em entrevista coletiva, o governador Wilson Witzel disse ser alvo de perseguição política. “Essa minha indignação é a indignação de um cidadão que veio governar o Estado do Rio de Janeiro e está sendo massacrado politicamente porque há interesses que não me querem governando o Estado. Há interesses poderosos contra mim que querem destruir o Estado do Rio de Janeiro atingindo a mim, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e o vice-governador”, afirmou, ressaltando que não cometeu crimes.
Entenda
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) ordenou o afastamento imediato do governador Wilson Witzel do cargo por 180 dias. Ele é suspeito de envolvimento em irregularidades nas compras para a pandemia de Covid-19. Não há ordem de prisão contra o governador, mas o STJ determinou a detenção do ex-secretário de desenvolvimento do Rio de Janeiro, Lucas Tristão, que era braço direito de Witzel e uma pessoa muito ligada ao empresário Mário Peixoto, que foi preso durante a pandemia, e é um prestador de serviço que tem negócios com o governo do estado. Outro alvo é o Pastor Everaldo, que foi preso, e seu partido, o PSC, já liberou uma nota colocando o político à disposição e dizendo que “confia na Justiça”. Além disso, a polícia cumpre mandados de busca e apreensão contra a primeira-dama Helena Witzel, já que ela é sócia de um escritório que foi contratado por uma empresa suspeita de envolvimento nas irregularidades. O presidente presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), André Ceciliano (PT), também é alvo de mandados de busca e apreensão.
Segundo o repórter da Jovem Pan no Rio de Janeiro, Rodrigo Viga, a Polícia Federal está no Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador, e no Palácio Guanabara, sede do governo do RJ, recolhendo materiais, documentos e eventuais provas que possam ajudar no andamento das investigações que têm como origem a colaboração premiada do ex-secretário de saúde Edmar Santos, além da Operação Placebo e Operação Favorito – ambas de maio deste ano. Cláudio Castro, vice-governador, assumirá o posto durante o afastamento de Witzel. Em nota, advogados de Witzel afirmaram: “A defesa do governador Wilson Witzel recebe com grande surpresa a decisão, tomada de forma monocrática e com tamanha gravidade. Os advogados aguardam o acesso ao conteúdo da decisão para tomar as medidas cabíveis.”
A Procuradoria-Geral da República informou que a operação foi batizada de “Tris in Idem” e que serão cumpridos 17 mandados de prisão – seis preventivas e 11 temporárias – e 72 de busca e apreensão. As ordens são cumpridas no Distrito Federal e em seis Estados: Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Alagoas, Sergipe, Minas Gerais. Também está sendo alvo de busca e apreensão um endereço no Uruguai, local onde estaria um dos investigados cuja prisão preventiva foi decretada. A investigação aponta que a organização criminosa instalada no governo estadual a partir da eleição de Witzel se divide em três grupos, para o pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos liderados por empresários. Os grupos teriam loteado as principais secretarias para beneficiar essas empresas.
Compartilhe