Animais terrestres são os primeiros a sentir a ação do fogo, mas as espécies aquáticas e os estoques pesqueiros também são diretamente afetados. Imagem que mostra devastação em Pantanal teve mais de 160 mil reações no Facebook nos últimos dias
GUSTAVO FIGUEIRÔA/SOS PANTANAL
O Pantanal Mato-grossense, conhecido como a maior planície alagável do planeta, sofre com a seca de mais de 100 dias e as queimadas de grandes extensões.
Pesquisadores da Universidade do Estado e Mato Grosso, ligados ao Centro de Pesquisa em Limnologia, Biodiversidade e Etnobiologia do Pantanal (Celbe/Unemat), vão à campo para avaliar as consequências das queimadas para o ambiente pantaneiro.
As queimadas podem deixar animais aquáticos e terrestres sem alimento, segundo os pesquisadores.
O local escolhido é conhecido popularmente como Baía Mal-Assombrada, às margens da rodovia BR-070, próximo a Cáceres (219 km de Cuiabá).
Animais terrestres são os primeiros a sentir a ação do fogo, mas as espécies aquáticas e os estoques pesqueiros também são diretamente afetados.
De acordo com os especialistas, não havia registro de queimadas tão grandes e, neste ano, a área fica ainda mais comprometida pela falta de chuva.
Para cientista Claumir César Muniz, o problema para os peixes é ainda mais grave porque eles vão sentir os reflexos do fogo depois, principalmente com a perda de alimentos e redução da qualidade das águas.
Em ambientes inundáveis, muitas espécies vegetais fornecem abrigo e alimento e, em contrapartida, os peixes dispersam suas sementes, contribuindo com a manutenção das florestas.
“Há uma relação interessante entre peixe e planta. Os peixes engolem os frutos e levam as sementes rio acima ou lateralmente. Eles promovem a recuperação florestal, favorecendo a formação de ilhas de espécies frutíferas que, futuramente, vão oferecer alimentos para os próprios peixes. A gente observa aqui uma enormidade de espécies que estão completamente destruídas pelo fogo. Com isso, esse ciclo é perdido”, explica Claumir.
Cinzas nas águas
Além da perda de alimentos, há o incremento de cinzas na água provocando um processo chamado “decoada”. O fenômeno ocorre quando há aumento de matéria orgânica no corpo da água e, para quebrar essa matéria, há um consumo de oxigênio. Então, há uma drástica diminuição de oxigênio nesses locais.
O professor explica que a decoada é um processo natural no ambiente pantaneiro, mas em função das queimadas, tudo indica que será potencializada.
“Para a ictiofauna, as consequências negativas não são sentidas imediatamente, mas sim, com o início da cheia no Pantanal. O que está queimado próximo às baías e aos rios, quando for carreado pelas primeiras chuvas para dentro dos corpos d’água, vai provocar uma diminuição abrupta de oxigênio, otimizando esse processo de decoada e comprometendo a ictiofauna”.
Animais terrestres
Atravessando a BR-070, a paisagem também é devastadora. Grandes extensões de terra, que em outras estações ficam alagadas, sofrem com a ação direta do fogo. É possível observar pegadas de animais terrestres, que são os que sofrem primeiro com a ação do fogo. Eles são afugentados e alguns, inclusive, morrem em função disso.
Os prejuízos ambientais poderão ser sentidos a quilômetros de distância a partir do local do incêndio.
Segundo o biólogo Derick Campos, mamíferos de médio e grande porte, como antas, queixadas, catetos e cutias, desempenham o papel de jardineiro das florestas. Eles são dispersores de sementes. Quando essa área é queimada, os frutos acabam e o potencial de atuação desses mamíferos para a recomposição florestal é comprometido.
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