Raoni diz que Bolsonaro mentiu em discurso na ONU e que quem toca fogo são fazendeiros, madeireiros e garimpeiros


Presidente afirmou na Assembleia Geral das Nações Unidas que a Amazônia é úmida e que quem provoca incêndios são caboclos e índios. Cacique Raoni reagiu à fala do presidente na ONU
Divulgação/Assessoria
O cacique Raoni Metukture reagiu à declaração do presidente Jair Bolsonaro no discurso na Assembleia das Nações Unidas (ONU), na última terça-feira (22), responsabilizando índios e caboclos por queimadas. O cacique foi até Sinop, no norte do estado, para realizar exames do coração, neste sábado (26), e procurou a imprensa para defender os indígenas dos ataques sofridos durante os incêndios no estado.
Nesta semana, Bolsonaro afirmou que o Brasil é “vítima” de uma campanha “brutal” de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal, e que os responsáveis pelas queimadas são o ‘índio’ e o ‘caboclo’.
Para Raoni, os incêndios têm sido provocados por fazendeiros, madeireiros e garimpeiros devido ao interesse em terras.
“Presidente que está agora no cargo, nesse ano, ele só pensa em si, em destruir planeta. Quer destruir planeta, natureza. Destruir todo mundo. Não aceito. Ele diz no jornal que índio está botando fogo no planeta, isso é pura mentira. São os próprios fazendeiros . Alguns fazendeiros prejudicam a mata, a natureza. Madeireiros, garimpeiros: eles que estão botando fogo no planeta”, ressaltou.
O Cacique disse ainda que sempre teve apoio de outros presidentes para defender e preservar o meio ambiente por meio de políticas públicas. No entanto, segundo ele, a partir deste ano, não conseguiu mais discutir essas questões devido à falta de diálogo com o atual presidente.
“Somos os primeiros habitantes nessa terra e depois o homem branco que já vem destruindo a vida e a natureza, isso me preocupa. Quero dizer aqui pra vocês, que ex-presidentes que já sentaram no cargo como: Tancredo Neves, Sarney, Color… Todos que passaram nunca houve desentendimento comigo. Nunca tiveram problema. Estes presidentes acolheram minhas demandas, de preservar a natureza”, disse.
Discurso do presidente
Em discurso na ONU, Bolsonaro diz que índios e caboclos promovem queimadas
O discurso de Bolsonaro na Assembleia da ONU foi proferido em um contexto de intensas queimadas que assolaram o Pantanal nas últimas semanas. O bioma teve em setembro o recorde histórico de focos de incêndio para o mês. Na Amazônia, principal alvo de preocupação da comunidade internacional, os alertas de desmatamento subiram 34% de agosto de 2019 a julho de 2020, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
No discurso, Bolsonaro disse que a floresta amazônica é úmida. Por isso, segundo ele, o fogo não se alastra pelo interior da mata.
“Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas. Os focos criminosos são combatidos com rigor e determinação”, declarou o presidente.
Luta pelo meio ambiente
O cacique Raoni é reconhecido ambientalista e defensor dos direitos dos povos indígenas. Ele é o líder do grupo Kayapó mais antigo, que vive em aldeias espalhadas nos estados do Mato Grosso e Pará.
Sua incansável luta por demarcação de terras e proteção da Floresta Amazônica o levou a ganhar o respeito e admiração não apenas de seu povo, mas de todas as comunidades indígenas brasileiras, além de chefes de estado estrangeiros, como Emmanuel Macron e ambientalistas.
Raoni ganhou projeção internacional nos anos 1980, liderando uma campanha global ‘Save de Rainforest’ (Salve a Floresta), juntamente com o músico Sting. Eles visitaram 17 países de abril a junho de 1989. A campanha foi muito bem sucedida e deu ao cacique Raoni a oportunidade de aumentar a conscientização mundial sobre desmatamento. Doze fundações para proteção da Floresta foram criadas para angariar fundos para a criação de uma reserva contínua abrangendo a Bacia do Alto e Médio Rio Xingu, entre o Mato Grosso e o Pará.
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