Ao olhar as bolsas de valores nos Estados Unidos, alguns fenômenos saltam aos olhos. As ações de tecnologia estão em alta, com as maiores, como Apple, Amazon e outras, quebrando recorde de preços. Já as ações dos bancos – Bank of America, Citibank e outros – caem 39% ou mais no ano. Ações focadas em serviços e plataformas digitais, como o Zoom, programa que entrou na moda ao facilitar reuniões online, decolam, mas papéis ligados a ramos tradicionais de negócio ainda não se recuperaram das perdas causadas pelo novo coronavírus.
Pode parecer mais um dos mistérios dos mercados financeiros, resultado do esforço de analistas para descobrir nos balanços números favoráveis a algumas empresas e setores e negativos para outras, mas Vincent Deluard, diretor de estratégia macroeconômica global da corretora americana Stonex group, chamou atenção para outro aspecto. Para ele, o mercado está mesmo é pessimista com o uso da mão-de-obra dos seres humanos. O analista pondera o que outros têm dito: a Covid-19 acelerou a transformação social, o aumento da desigualdade, a mudança para uma nova economia e outras tendências. Os negócios se digitalizaram e, enquanto empresas ligadas à internet conseguiram sair ganhando com a crise, empreendimentos da chamada velha economia, a economia real, fecharam durante as medidas de isolamento e se recuperam lentamente.
- Facebook +33%
- Amazon +76%
- Apple +66%
- Netflix +46%
- Alphabet +17%
As ações da Faang, expressão que junta Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google, pertencente à Alphabet, sobem entre 17% e 76% no ano. São empresas que têm menos empregados em proporção ao valor de mercado que possuem do que as da economia real. Só a Apple vale US$ 2 trilhões e tem 90 mil funcionários. Empresas que dependem menos de mão de obra se valorizam 37% a mais do que aquelas que dependem. O problema, segundo o analista, é que essa disparidade reflete a visão do mercado financeiro sobre o tipo de negócio que deve prosperar no futuro, e o que está sendo visto é que empregar muita mão de obra não aumenta os lucros no ritmo das empresas de tecnologia.
Ele cita, por exemplo, o caso da Netflix, que tem menos de 9 mil funcionários e valor de mercado de mais de US$ 200 bilhões. A exceção acaba sendo a Amazon, que é uma das maiores empresas do mundo, mas também grande empregadora do varejo. Mesmo que muitas grandes empresas de tecnologia também contratem, a análise é implacável: as cinco maiores dominam o S&P 500. Ao mesmo tempo, respondem por por apenas 5% dos trabalhadores entre todas companhias que fazem parte do índice.
*Samy Dana é economista e colunista na Jovem Pan.
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