Não foi o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, que se afastou do ministro da Economia, Paulo Guedes, mas o ministro que se reposicionou no governo e mantém distância regulamentar dos adversários do presidente no Congresso. O eixo do poder mudou por aqui. O presidente Jair Bolsonaro estabeleceu que o ministro-chefe da Secretaria de Governo, o general Luiz Eduardo Ramos, é o interlocutor político dele. Os últimos entraves foram removidos no Congresso e o afastamento do grupo do ex-líder do governo na Câmara, deputado Vitor Hugo, foi a batida de martelo. A aproximação dos partidos do Centrão com o governo provocou mudanças. A primeira reacomodação foi o crescimento do deputado Arthur Lira, que funciona como líder informal no Congresso. O presidente da Câmara se aproximou do então líder oficial, Vitor Hugo para evitar a força do deputado Arthur Lira. Antes, o deputado Vitor Hugo era rejeitado.
No início do governo, indicado para a liderança na Câmara, o deputado Vitor Hugo não era recebido como tal pelo presidente Rodrigo Maia. A dificuldade chegou ao ponto em que o presidente da Câmara marcou uma reunião de líderes, na residência oficial, e não chamou o líder do governo. Sabendo da reunião, num final de semana, o deputado Major Vitor Hugo tirou a bermuda e, num traje social, mas sem o terno, bateu na porta da ampla residência que fica na Península dos Ministros, local nobre da Capital Federal com acesso ao Lago Paranoá. O nome dele não estava na lista e ele foi barrado pelos seguranças. Ao invés de se sentir constrangido, o Major, elite das Forças Armadas, formado em Comandos com louvor e guerreiro por natureza, não desistiu. Com a armadura que protege os deputados em primeiro mandato, a da indignação, pediu para o funcionário anunciar a sua presença. O próprio presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, autorizou a entrada e foi recebê-lo na antessala.
– O senhor não tem o nome na lista da portaria, porque não foi convidado para esta reunião.
A fala seca e direta do presidente da Câmara não intimidou o líder. Pelo Contrário, Vitor Hugo, entrou e respondeu no mesmo tom e olho no olho, como comunicam os oficiais militares:
– O senhor só poderá barrar um deputado federal eleito democraticamente e líder do governo indicado pelo presidente da República quando fizer uma reunião na sua residência particular. Esta aqui é uma casa pública, paga e mantida por verbas públicas, e a reunião é de interesse público e de líderes. Sou o líder do governo quer o senhor goste ou não.
Participou da reunião e o mal estar perdurou até o crescimento do Centrão e o fortalecimento do deputado Arthur Lira que se coloca como candidato de centro à sucessão do próprio Maia e que pode contar com apoio do presidente Jair Bolsonaro. O apoio do deputado Rodrigo Maia ao líder Vitor Hugo foi tardio e não conseguiu vencer a força do amigo pessoal e de longa data de Bolsonaro, o ministro Luiz Eduardo Ramos. Este é o novo interlocutor do governo no Congresso e exatamente por esta decisão é que o ministro Paulo Guedes tira o time de campo nas negociações políticas.
O ministro Paulo Guedes caiu nas graças dos líderes no Congresso porque houve uma avaliação de que ele seria mais liberal do que o próprio presidente Bolsonaro. A influência dele no governo era visível. O chamado “Posto Ipiranga” funcionou bem neste papel e chegava a contraditar debates políticos de outros ministros e aliados. Vencia todas até esbarrar na muralha que se fechou em torno do presidente. São os ministros militares que apoiam outros ministros, como o do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. Como em toda disputa, ficam mortos e feridos, Paulo Guedes saiu ferido, menor no governo e optou por ficar, mesmo enfraquecido. O afastamento dele dos líderes políticos que tentaram “parasitar” o governo é uma trajetória natural. Está fortalecido o general Luiz Eduardo Ramos que é, no momento, o flanco político do governo e autor da engenharia nova do Centrão no poder. Os aliados históricos do presidente fazem chacota nos bastidores, sobre a falta de desenvoltura política e trabalho do general Ramos. Publicamente aceitam a nova ordem, mas esperam no futuro uma mudança nesta relação. O preço da trincheira, da conquista territorial é a eterna vigilância para manutenção do espaço. A guerra está em andamento e é o que sempre digo, onde há poder sempre haverá disputa.
*José Maria Trindade é repórter e comentarista na Jovem Pan.
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