Um novo Jair Bolsonaro nasce na Praça dos Três Poderes e fecha um importante pacto com o Legislativo. O objetivo é bom, contra a gastança e volta à realidade fiscal. O populismo seduz e não há nada mais eficaz para este propósito do que distribuir benesses. Colocar o estado como um pai, pronto para tomar conta da vida de cada um, é a meta de políticos populistas. Distribuir dinheiro vivo, então, se transformou em sonho de todos. O que era antes cestas de alimentos, vale gás, vale pão e desconto em contas domésticas, agora é a mágica da distribuição do dinheiro vivo. O salário emergencial catapultou a popularidade do presidente Jair Bolsonaro. Um deputado me mostrou pesquisa privada no Nordeste e os números surpreendem. A popularidade do presidente subiu, ultrapassou a força do ex-presidente Lula e indica que a região se transformou na nova força do bolsonarismo. Fica claro, na mesma pesquisa, que, além da força do presidente, o apoio a Paulo Guedes é muito forte, sinal entendido por apoiadores do presidente, ou do governo, de forma envergonhada. Outro ponto que merece destaque é a chegada de Luiz Henrique Mandetta. O ex-ministro da Saúde chega no Nordeste na frente dos candidatos anunciados. Ultrapassa João Doria, Luciano Huck e outros. Encosta no Sergio Moro.
Diante desta nova realidade, aliados do presidente mostraram a ele que é possível andar pelos caminhos do ex-presidente Lula e admitir a troca de eleitores. Haverá queda de apoio no Sul e Sudeste e aumento de apoio no Norte e Nordeste. Se o deputado tem a pesquisa com extrato de apoio, o governo conhece de forma detalhada o que pensa cada setor e cada região. Está aí o povo que promoveu o nascimento do novo Jair Bolsonaro que “sai do cercadinho”, segundo o líder, e vai para as ruas. Deixa de fazer agressões diretas ao Supremo e se torna mais propositivo. Faz acordo com políticos tradicionais e conversa com os ex-presidentes José Sarney e Michel Temer. Foi capaz de nomear o ex-presidente Temer para representar o Brasil na missão de apoio aos libaneses. Mais do que ajuda alimentar e técnica, o objetivo do governo brasileiro é tentar mediar um pacto político para reerguer o Líbano após explosão em Beirute e que provocou abalos pesados na política. Este é o novo Bolsonaro que se une ao Centrão ao ponto de tirar um amigo pessoal e de longa data, o deputado Vitor Hugo, da liderança do governo para colocar um legítimo centrista, o ex-ministro da Saúde e deputado Ricardo Barros.
Os ares políticos mudaram. Se tornou visível o alívio dos tradicionais governistas que tentam agora pavimentar a reeleição via orçamento público. O primeiro efeito é a blindagem. Ficou agora impossível fazer o impeachment. Trinta e cinco requerimentos estão esquecidos na gaveta do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia. O presidente da Câmara até saiu da condição de adversário para uma “convivência institucional”. Já não há ameaças de pautas bomba e os vetos do presidente Jair Bolsonaro não caem com naturalidade. Os bolsonaristas radicais que no início do governo estavam sedentos de discórdia estão sendo isolados e a situação está diferente. O teste para este novo momento será a disputa pelas presidências da Câmara e Senado. O novo líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, alerta que não haverá intervenção do presidente nesta disputa pelo domínio do Congresso, mas ninguém fica fora de uma disputa assim. Com as barbas de molho, aliados de raiz estão mesmo observando a possibilidade de avanço do Centrão nos cargos públicos. O perigo ronda o governo quando os “percevejos de gabinete” se aproximam do poder. Há uma dúvida por aqui, se agora temos um novo Jair Bolsonaro ou um presidente envelhecido precocemente.
*José Maria Trindade é repórter e comentarista de política da Jovem Pan.
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